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Cozinha, temperos e uma pitada de autoconhecimento

Sou descendente de italianos, e como toda boa família de italianos, comida sempre representou um momento importante em casa. Recordo-me dos grandes almoços de fim de semana, todos reunidos à mesa e a gritaria das contações de histórias.

A matriarca na cozinha, fazendo cinco vezes mais comida do que o necessário e eu e meus primos, sempre a seus pés, curiosos da arte do fogão, e ratos de cozinha para petiscar antes de todo mundo.

Antes de morar sozinha nunca tive a necessidade de cozinhar. Exceto por um brigadeiro aqui e outro ali, nunca tinha feito nada complexo na cozinha. Entretanto, quando me vi sozinha na cozinha pela primeira vez, comecei a arriscar, a experimentar, puxava da memória os movimentos daquela dança.

Claro, algumas vezes liguei para perguntar como era mesmo aquele molho que restaurante nenhum parecia fazer igual.  Algumas coisas deram certo, outras nem tanto, mas nunca ficavam iguais às da minha avó.

Hoje, cozinhar virou parte da rotina. Mais que isso, o cozinhar aos finais de semana virou tradição entre amigos. E, em uma dessas “cozinhas criativas”, em que abrimos a geladeira e criamos alguma coisa com o que tem, começamos a divagar sobre o cozinhar.

Cada um tinha uma experiência com a cozinha, mas nesse simples ato, assim como os demais atos em nossa vida, conseguíamos ver as características de cada um. E, também, como nesse simples ato, conseguíamos reviver pequenos modos de lidar com situações do dia-a-dia.

Existem aquelas pessoas que não cozinham e nem gostam de se arriscar, de experimentar algo novo. Existem aquelas que só cozinham com uma receita ao lado, seguindo as regras.

Existem aquelas que se arriscam em uma coisa aqui e outra ali. Existem aquelas que reinventam completamente receitas. Seria talvez, o ato de cozinhar, também um caminho para se conhecer e se reinventar?

Independente de qual seja o seu perfil, o ato de cozinhar pode ser uma possibilidade para conhecer aquilo que gosta ou desgosta, os sabores que prefere, os temperos. Se sua mão carrega um pouco mais no sal ou no doce ou se é muito comedido.

E, ao mesmo tempo, podemos intervir voluntariamente em nossos padrões, como colocar um tempero diferente, experimentar sair da cozinha tradicional e substituir um ingrediente por algo que goste mais ou queira experimentar.

A cozinha pode ser o primeiro lugar de inovação e criatividade, para que depois possibilitemos a transferência deste novo modo de ser para outras partes da vida.

Lembro-me das medidas das receitas da minha família: uma pitada de sal, um punhado de farinha, um tanto bom de leite.

E penso hoje que, sem ter consciência disso, minha avó me ensinava a ser autêntica, a experimentar e a conhecer meus próprios gostos. Um caminho que todos nós podemos seguir em qualquer momento de nossas vidas.

Allora, andiamo a mangiare!

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