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Velhice: do que os idosos necessitam?

A velhice precisa ser cada vez mais pensada, pois o mundo envelhece de forma acelerada, tendo em vista as melhores condições de saúde e saneamento, somadas aos avanços tecnológicos da medicina. Segundo a ONU (2005), o Brasil será o sexto país com maior número de idosos no mundo até 2025.

Ao acompanhar meus avós idosos no fim da vida, o prolongamento desta pela tecnologia da medicina me deixava angustiada. Alguns familiares me diziam que eles estavam deprimidos e insistiam na busca da “cura”, no prolongamento da vida a qualquer custo.

Eu não via este quadro de depressão e achava que tinha algo mais acontecendo. Via muitas vezes um cansaço e pensava que buscavam um fim, já que tudo tem um começo e um fim.

Fui entendendo então que a velhice é um momento de desconstrução contínua, vivida no corpo, no social e no próprio self, e em minha opinião isso não é acolhido na nossa cultura, já que morrer significa “fracassar”.

Nesse processo de desconstrução, que pode ser entendido como uma espécie de preparação para a morte o tempo todo, vemos esta necessidade da pessoa estabelecer uma compreensão e comunicação sobre o “luto”.

O idoso tem a necessidade de ter um dialogo continuo com o “luto”, ou seja, aqui o paradoxo da vida se faz necessário: tais desconstruções necessitam ser vividas na presença de alguém.

Estamos assentados, como seres de passagem, entre a origem e o fim. Esta condição existencial de início e fim mostra que somos seres precários, até porque sabemos que não existe nenhuma garantia de permanência daquilo que criamos.

Olhando por esta perspectiva, o homem vive num constante “vir a ser”, que deve realizar-se no seu dia-a-dia, que é finito e que na velhice ganha maior consciência.

Nesta revisão do sentido da vida, como experiência fundamental para envelhecer e morrer, os idosos necessitam viver vários aspectos do perdão. Eles buscam no perdão uma possibilidade de abrir novos espaços, e entre eles poder morrer.

Sabemos que esta tarefa não é nada fácil, podendo trazer entraves, dificultando o lidar com o envelhecimento, com a morte, com o sentido da existência, o que acaba em adoecimento psíquico, físico e social.

A clínica do envelhecimento pode ser o lugar e o ambiente que oferte o encontro humano que favoreça o sonho do fim último, como também ser o espaço dos “balanços existenciais” – segundo Safra – “a atualização daquilo que não foi, para que possa vir a ser”.

Ela visa recuperar aspectos fundamentais na velhice como: a dignidade, a cicatrização das feridas, a possibilidade de rever a vida e finda-la, como gesto pessoal de realização, acontecimento e memória do mundo diante do outro.

É uma possibilidade de acolher a velhice e poder morrer em paz, sem agonias ou aflições.

Saiba mais sobre o tema conhecendo a tese de Fernando Genaro Júnior:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-22052013-152831/pt-br.php

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