Toque, movimento e afeto
Podemos considerar não apenas o toque, mas a propriocepção e o movimento como constituintes de nossa vida afetiva.
Acreditava-se que a percepção táctil tinha apenas a função discriminatória; servia apenas para reconhecer o mundo a nossa volta.
Entretanto, pesquisas recentes mostram que há uma dimensão profunda e que desempenha papel afetivo significativo, aumentando até mesmo as chances de sobrevivência de bebês.
O gesto e o movimento permitem que o sistema neuronal reconheça a si mesmo e tome contato com o outro.
Em nossa pele temos mecanorreceptores (fibras e receptores) responsáveis pela apreensão do toque.
Cada tipo de mecanorreceptores da pele tem uma “preferência” por diferentes tipos de contatos.
As fibras de classe A-beta são responsáveis pela discriminação. São as fibras da palma da mão que, revestidas por uma camada de mielina, transmitem rapidamente mensagens elétricas ao sistema nervoso.
As fibras C são diferentes, sem mielina, e transportam as informações de forma mais lenta e estão relacionadas à dor e à coceira.
Francis McGlone, pesquisador, é responsável por uma série de estudos no campo da dor e, nos últimos tempos, tem estudado um “novo” tipo de fibra conhecida com aferente C-tátil.
Estas fibras transmitem mensagens ao sistema nervoso central e estão profundamente associadas a movimentos suaves, temperatura confortável, carinho e qualquer outro tipo de contato leve, considerado em ciência como qualquer pressão abaixo de cinco milinewtons.
Em pesquisas, as fibras aferentes C-tátil, quando estimuladas, provocam respostas no córtex insular cerebral, que está ligado ao sistema límbico e é conhecido por monitorar as emoções e percepções do próprio corpo.
Em outras palavras, essas fibras estão mais associadas aos sentimentos do que a sensações como as fibras A-beta e C.
O conjunto de fibras responsáveis pela discriminação do mundo, sensações, emoções e percepções de si mesmo trabalha junto.
O sistema sensorial afetivo e o tato discriminativo também trabalham em conjunto na percepção e construção do mundo interno, daquilo que somos nós e na percepção e comunicação com o mundo externo.
Aquilo que pensamos ou que achamos que outros pensam sobre nós afeta nossas percepções de tato.
Uma pesquisa realizada por Olausson e Wessberg demonstrou que “informações concorrentes que chegam dos sentidos e do cérebro são conciliadas caso a caso, num processo similar ao que ocorre quando comemos alimentos picantes.” (Mente Cérebro, p. 31).
Assim, devemos considerar, em uma sociedade virtual, como movimentos e contatos podem ser constituintes de um sentido de apropriação de si mesmo e como a psicoterapia, trabalhando nesta “co-construção” do ser, constitui-se também nos movimentos, colaborando para a diferenciação entre ser e mundo e para a apropriação de si mesmo.
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