Tendência cognitiva
Nossa anatomia conta uma história.
Parte desta história não pertence apenas a nós, mas a toda uma história da humanidade e do mundo, de uma evolução.
Outra parte pertence exclusivamente a nós, a nossas experiências que formam nossa mais profunda anatomia.
Algumas de nossas ações, como o reflexo de luta ou fuga, datam de experiências ancestrais e que ainda se fazem úteis atualmente.
E nossas ações podem se fazer decorrentes dessa necessidade de lutar para se proteger e derrotar um inimigo.
Vamos moldando nossas maneiras de nos relacionar com o mundo, com as situações e com as pessoas.
Entretanto, existe a possibilidade de nos colocarmos como entendedores, observadores que tentam questionar para investigar, identificar possíveis obstáculos, mas entendendo que não necessariamente teremos que lutar ou fugir.
Podemos aprender sobre os contextos que nos cercam, sobre as pessoas com quem convivemos.
Podemos processar nossas ideias das duas maneiras.
Porém, atualmente, nossas ações parecem ser embasadas no reflexo de luta ou fuga e isso pode nos levar a tirar conclusões precipitadas que podem nos prejudicar na vida.
A psicologia chama isso de “tendência cognitiva”.
Em estado de alerta, nossos desejos, medos e emoções encobertas moldam a forma como percebemos informações.
Algumas ideias nos parecem ser “verdadeiras” e queremos defendê-las, enquanto outras parecem nossas “inimigas” e queremos destruí-las.
O espectro dessa ideia nos parece muito familiar quando olhamos para as intolerâncias de nossa sociedade, atentados contra gêneros, religiões, classes sociais entre outros.
Entretanto, pouco percebemos o quanto fazemos isso em menor escala, em nosso dia-a-dia.
Nossos pequenos preconceitos de nossos pequenos mundos.
Quantas vezes ao acompanhar um jogo de futebol e quando um juiz marca a falta contra o time que torcemos achamos que foi precipitado e a jogada deveria ser revista, e quando o mesmo acontece com o time oposto consideramos que o juiz estava certo.
Nosso julgamento é influenciado diretamente por nossas preferências, mesmo que não tenhamos consciência disso, que seja algo encoberto para nós.
Esta característica está presente a todo momento e em todo lugar. Perpassa quem somos e como pensamos sobre nossa saúde, nossos relacionamentos, etc…
Nos deparar com essa realidade abre-nos a possibilidade de ir além de nossos preconceitos, ampliar nossos horizontes e tentar entender os contextos em que as situações se dão e que envolvem as pessoas.
A escritora Julia Galef diz que para mudarmos nossa perspectiva as emoções são fundamentais.
O estado de alerta, que nos leva para a “tendência cognitiva”, tem como base sentimentos relacionados a defesa.
Já o segundo modo de se olhar o mundo, a que ela chama de “Pensamento de escoteiro”, tem como base sentimentos como a curiosidade, prazer em aprender, motivação para resolver problemas.
Pessoas que adotam essa segunda perspectiva, diz ela, são mais propensas a dizer que testar suas próprias crenças é algo virtuoso, mudar de opinião não é sinal de fraqueza e estar certo ou errado não os faz melhores ou piores enquanto pessoas.
Para saber mais sobre o assunto segue a palestra de Julia Galef:
https://www.ted.com/talks/julia_galef_why_you_think_you_re_right_even_if_you_re_wrong#t-588121
E alguns estudos (dentre vários) sobre o tema:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S009265660500067X
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