A anorexia e o cérebro
Não é novidade que sabemos pouco sobre transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia.
A anorexia, a bulimia e a compulsão alimentar podem ser definidos como qualquer desfiguração dos hábitos alimentares que resulte em uma desordem da alimentação.
Pesquisas recentes podem abrir possibilidades para novos olhares diante desses hábitos alimentares desorganizados.
Pesquisadores começaram a desvendar as regiões cerebrais e os circuitos neuronais que estão associados a esses hábitos.
A bulimia e a anorexia, por exemplo, apesar de possuírem características diferentes uma da outra, parecem compartilhar os mesmos gatilhos biológicos, como a hereditariedade.
Pessoas que apresentam quadro de transtorno alimentar também parecem ter movimentos parecidos em seu modo de ser.
Entretanto, dizer que seria apenas uma questão de temperamento, hereditário ou do meio ambiente, parece não abarcar a complexidade do sistema que envolve qualquer transtorno.
Neurocientistas dizem que o processamento de um sistema de recompensa falho parece ser um fator importante.
Os circuitos cerebrais envolvidos no sistema de recompensa de mulheres anoréxicas se apresentaram menos ativos quando elas ganhavam algo, mas mais ativo quando perdiam.
Os cientistas também encontraram alterações importantes no sistema dopaminérgico de mulheres com anorexia e bulimia.
O que para algumas pessoas é um prazer, para mulheres com anorexia é uma preocupação.
Segundo Walter Kaye, diretor do Programa de Pesquisa e Tratamento de Distúrbios Alimentares da Universidade da Califórnia, a liberação da dopamina em determinadas áreas do cérebro causa ansiedade em vez de prazer.
Cientistas levantam a possibilidade dos distúrbios alimentares estarem mais conectados aos hábitos diários do que à força de vontade e motivação (ou falta delas).
Alguns resultados sugerem que exista uma hipersensibilidade visceral em pessoas com anorexia, que altera sua interocepção (função fisiológica do hipotálamo de ter percepções relacionada ao interior do organismo como PH, temperatura, tensão de fibras musculares lisas, etc) e aumenta um “barulho interno” dos órgãos que a maioria de nós não “ouve”.
Estas pesquisas trazem mais uma perspectiva sobre o assunto, mais um aspecto a ser considerado nos tratamentos.
Provavelmente, algumas condições preexistentes colocam uma pessoa em risco de desenvolver um transtorno alimentar, enquanto outras mudanças acontecem em resposta a esses hábitos alimentares.
Separamos didaticamente neurologia, biologia, fisiologia, emoções, sentimentos, etc…, mas o corpo funciona de maneira integrada e concomitante.
As partes formam um todo complexo do qual não podemos predizer o funcionamento ou a resposta apenas com uma pequena amostra de uma dessas partes.
O tratamento para transtornos alimentares envolve uma equipe multidisciplinar.
A terapia, nesses casos, é condição necessária para que pacientes integrem as complexidades envolvendo o assunto e consigam encontrar as melhores alternativas para si mesmos.