Sustentabilidade Humana
Há alguns anos escrevi um artigo sobre sustentabilidade emocional. O tema da 11ª Conferência Internacional em Stress e Saúde Ocupacional foi “Trabalho Sustentável, Saúde Sustentável e Organização Sustentável”, justamente abordando a ideia da abrangência da sustentabilidade para além da natureza e meio ambiente.
Provavelmente a maior diferença que vemos nas organizações internacionais de sucesso é a mudança de cultura, o mindset (modo de pensar). Para estas organizações a sustentabilidade também significa não desperdiçar e dissipar seus recursos humanos.
Tarefa árdua em qualquer empresa, mais difícil ainda no Brasil, visto que a maioria de nossas organizações ainda funciona em modelos mentais arcaicos com crenças como “quanto mais horas de trabalho, melhor é o funcionário”.
Talvez compartilhar os pontos cruciais da conferência possa colaborar para pensarmos algumas questões por aqui.
Em qualquer relação humana, tanto pessoal quanto de trabalho, a comunicação é aspecto fundamental para a saúde. Muitas intervenções feitas em ambientes de trabalho não se sustentam por falta de comunicação.
Os colaboradores de uma organização tipicamente conhecem o sistema em que estão, seus problemas, as causas destes e, muitas vezes o que fazer com esses problemas.
Entretanto, essas informações ficam perdidas em conversas informais e as pessoas que elaboram as intervenções, em sua maioria, não elaboram maneiras para os colaboradores compartilharem essas informações e se engajarem nas intervenções.
Essa forma de elaboração de intervenções poderia economizar dinheiro e desgaste emocional das organizações, prevenindo o aumento do stress.
Em uma pesquisa sobre horários flexíveis de trabalho, Eric Faurote, da Universidade do Nebraska em Omaha, concluiu que apenas essa medida não é suficiente para aumentar a qualidade de vida e saúde dos colaboradores.
Para superar os efeitos negativos dos conflitos entre vida pessoal e profissional, as organizações deveriam combinar uma série de recursos.
Estudos da Universidade da Flórida mostraram que pessoas que tiveram altos níveis de stress pela manhã tendem a consumir alimentos gordurosos e prejudiciais à saúde quando chegam em casa.
Entretanto, se os colaboradores tiveram uma boa noite de sono no dia anterior, a tendência a se alimentar mal diminuiu, mesmo com uma manhã estressante.
Os responsáveis por este estudo sugerem que as organizações poderiam ter programas para educar seus colaboradores a ter uma boa noite de sono.
Outra possibilidade argumentada foi a mudança do espaço de trabalho. Novos tempos, novas organizações, novos formatos. Algumas pesquisas em Viena desenharam espaços que contribuem para a flexibilidade, adaptando diferentes ambientes, com diferentes finalidades, como uma “zona zen”, mais silenciosa, para criação, e “zonas de interação” para suprir a necessidade das inter-relações pessoais nas organizações.
Um ponto controverso abordado por Hannah J. Murphy foi o uso de mídias sociais no ambiente de trabalho. Suas pesquisas mostraram correlação na interação de colaboradores nessas mídias e apoio social.
O sentimento de apoio social colabora para a satisfação e manutenção do trabalho, além de contribuir para a diminuição da tendência à síndrome do burnout. Segundo ela, “Quanto mais uma pessoa está satisfeita no trabalho, maior a probabilidade do uso de mídias sociais.”, cabe então ao RH definir políticas de uso das redes sociais que sejam saudáveis para as organizações.
Recorrente também é a preocupação com os funcionários mais velhos. Neste sentido, algumas organizações têm feito mudanças em três áreas: ambiente físico, programas de bem-estar, horários flexíveis e aposentadoria em fases.
Por vezes medidas simples como mesas de trabalho acopladas a esteiras (treadmill desks), estações de trabalho de pé, reuniões em momentos de caminhada e outras estratégias para aumentar a atividade física durante o dia têm ajudado colaboradores a buscar uma vida mais saudável e com menos stress.
O cenário mundial tem mudado sua perspectiva em relação às pessoas. Finalmente o mundo começa a entender que pessoas fazem organizações. Pessoas saudáveis produzem organizações saudáveis e duradouras.
Resta-nos saber se a tendência mundial vai chegar ao Brasil ou, como em outras áreas de nossa sociedade, continuaremos seguindo modelos arcaicos comprovadamente falidos.
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