Somos seres de histórias

Alguns filósofos dizem que somos as histórias que nos contaram sobre nós.

Uma intersecção complexa de narrativas passadas, transgeracionais, sociais, individuais, passadas, presentes, futuras… Nosso cérebro é programado para ouvir histórias.

Começamos a contá-las na antiguidade. As gravuras nas cavernas nos mostram a importância do conhecimento passado através da contação de histórias. A psicóloga Amanda D’Annucci diz que ativamos uma vasta parte de nossos neurônios ao ouvirmos ou contarmos histórias.

Elas podem também ser utilizadas como uma ferramenta de comunicação importante em nosso cotidiano. Podemos transformar situações para nós mesmos, para que possamos compreendê-las melhor e abrir novas possibilidades.

Shephren diz que as histórias que contamos são as maneiras com que construímos, interpretamos e compartilhamos nossos mundos.

Antecipamos sentimentos como amor, ódio, esperança, culpa, além de vivenciarmos lembranças, fofocas, experiências. Tudo por meio das narrativas.

As narrativas nos permitem construir uma representação em nossa memória em que as várias partes individuais de uma experiência são conectadas de maneira significativa.

Ao participarmos efetivamente de uma história, contando ou perguntando, há maiores chances de nos engajarmos e refletirmos mais sobre aspectos éticos vivenciados pelas personagens.

Pesquisas recentes demonstraram que a experiência de cantar alguma música juntos ou compartilhar pontos de vista (mesmo que diferentes) possibilita uma sensação de fusão momentânea de uma experiência privada muitas vezes não revelada, promovendo sentimentos de inserção em comunidade.

Pessoas livres discutindo seus problemas em comum promovem uma sociedade civil, em que os indivíduos podem se expressar em um grupo.

Um estudo promovido por Robert A. Baron, da Universidade de Oakland, entre estudantes palestinos e israelenses mostrou que os conflitos estão enraizados nas narrativas de como um lado percebe o outro como agressor e a si mesmo como vítimas.

Ao usarem a contação de histórias como uma ferramenta para que pudessem perceber um ângulo diferente da história, aspectos antes desconhecidos por eles ajudaram o grupo a sair de uma dinâmica agressor/vítima em que o diálogo era quase impossível, para um sentimento de aceitação das diferenças.

Segundo D’Annucci, histórias promovem um caminho para a conexão entre as pessoas, comunidades, valores e sonhos, induzindo respeito e a aceitação das diferenças naqueles que ouvem.

São veículos para navegação para o entendimento racional, como também para a compreensão emocional

Compartilhar histórias nos faz mais propensos a participar ativamente dos grupos em que estamos inseridos, nos faz sentir como parte integrante e constrói sentidos para estarmos no mundo.

Em seus estudos sobre felicidade, Mihaly Sikszentmihalyi diz que o sentimento de engajamento é um dos principais preditores de felicidade.

A contação de histórias nos oferece insights de como as pessoas avaliam, discutem e negociam estratégias éticas e sociais para viabilizar as relações em nossa vida profissional e social.

A terapia colabora para que possamos narrar nossas histórias, contá-las para um interlocutor e encontrar outras possibilidades de destino para elas, abrindo novas possibilidades de interpretação do passado, para vivenciar um presente mais autêntico e ter a possibilidade de se responsabilizar e desenhar nossos futuros.