Resiliência, trabalho e recuperação

Resiliência é definida como a capacidade que temos de nos adaptar às mudanças e as situações que a vida pode nos trazer.

Entretanto, é com certa frequência que confundimos o que realmente significa ser resiliente.

Associamos resiliência com resistência e força, como se para ser resilientes tivéssemos que ser atletas de alta performance ou fazer parte de algum exército da vida.

Acreditamos que se permanecermos por um longo período de tempo sendo fortes, mais sucesso teremos. Essa concepção, porém, não é real.

Em um estudo sobre influência das características do trabalho sobre a necessidade de descanso, Judith K. Sluiter percebeu que a falta de um período de descanso pode afetar drasticamente nossa habilidade coletiva de ser resilientes.

A falta de um momento para recuperação, seja por alterar horas de sono com ansiedades sobre o trabalho ou por ficarmos constantemente agitados olhando em nossos celulares, tem custado às empresas em torno de 62 bilhões de dólares por ano por causa da baixa produtividade.

Talvez seja necessário definirmos de que tipo de recuperação estamos falando.

Não é porque não estamos nos escritórios e em nossos trabalhos que estamos nos recuperando.

Ao contrário, ficamos viciados no trabalho.

Uma das definições de “vício no trabalho” o descreve como estar preocupado em demasia com o trabalho, com uma motivação incontrolável para ele, e investindo nele muito tempo e esforço, comprometendo outras áreas da vida.

Cientistas têm estudado as interferências da tecnologia em nossa recuperação e os resultados disso em termos de custos com saúde.

Aprendemos o mau hábito de sempre trabalharmos em excesso.

Arianna Huffington, autora do livro The Sleep Revolution, escreve que sacrificamos nosso sono em nome da produtividade, ironicamente prejudicando a mesma, pois mesmo com as horas extras de trabalho, perdemos em média 11 dias de produtividade por ano.

A homeostase, habilidade de um sistema continuamente se restaurar e manter seu bem-estar, pode, assim, entrar em ação. Algumas ações são valorosas para criarmos nosso bem-estar.

Quando estamos “fora da linha” devido ao stress desperdiçamos grande quantidade de energia mental e física tentando retornar ao nosso ponto de equilíbrio.

Se ficamos muito tempo em nossa zona de alta performance precisamos de mais tempo de recuperação.

Se não nos recuperamos, nos colocamos em risco de burnout.

Quanto mais nos desgastamos com o trabalho, mais precisamos descansar.

Quanto mais cansados, menos conseguimos entrar na nossa zona de alta performance, pois para performar temos uma alta demanda de energia.

Para construirmos resiliência precisamos de períodos adequados de recuperação interna e externa.

Recuperação interna se refere a pequenos períodos de relaxamento, que acontecem durante o horário de trabalho, pequenos intervalos (agendados ou não).

Uma pequena meditação em que mudamos o foco de atenção do trabalho para outra tarefa, ou apenas para o que acontece conosco naquele momento, voltando nossa atenção para a respiração.

Recuperação externa são ações fora do local de trabalho, no dia a dia ou nos finais de semana, férias, etc.

Podemos tentar começar a construir resiliência tentando parar de forma estratégica, criando recursos para realizar a recuperação interna e externa.

Podemos usar a tecnologia a nosso favor para nos recuperar.

Existem aplicativos que nos mostram quantas vezes olhamos para nosso telefone durante o dia, outros agendam momentos no modo avião, para que possamos ficar alguns instantes livre de distrações.

Também podemos fazer pausas a cada 90 minutos para “recarregar nossas baterias”.

E podemos efetivamente usar nossas horas fora do trabalho para realmente ficarmos fora dele.

A meditação e a terapia podem contribuir, tanto para a recuperação interna quanto para a externa, desenvolvendo nossa habilidade de estarmos presentes no momento e conscientes daquilo que sentimos, aprendendo a intervir sobre nossos próprios processos.