Relacionamento abusivo
O relacionamento abusivo muitas vezes começa de forma sutil e afeta a capacidade da vítima de reconhecer a situação violenta. É a relação que machuca, que fere, emocional ou fisicamente. Nela predomina o excesso de poder sobre o outro, o desejo de controlar o parceiro, de “tê-lo para si”. A pessoa fica presa em um vínculo destrutivo e muito danoso.
Pode acontecer em qualquer relacionamento, seja amizade, família, trabalho. Aqui vou falar somente do amoroso. Para nosso terror e espanto, se fizermos uma busca no Google por “inconformado com o fim do namoro”, nos deparamos com a triste realidade de mulheres assassinadas, sequestradas e agredidas pelos ex-parceiros. Isso ilustra o extremo de onde relações amorosas abusivas podem chegar.
Estas relações podem ser uma armadilha perigosa, porque colocam a pessoa em uma situação difícil de sair, seja por ter se tornado dependente de alguma forma, seja por fazer a pessoa sentir medo ou culpa ou ainda aquela esperança de que ela possa “salvar” o seu namoro ou casamento.
É difícil definir quando um relacionamento é abusivo, e para que você possa reconhecer se sua relação é ou não assim, vou apresentar diversas situações. Algumas são mais sutis, outras extremas, mas o importante é pensar e ver se você se identifica com uma ou algumas delas.
Seu/sua parceiro(a):
- Tenta colocar você contra seus familiares e amigos?
- Quer decidir com quem você pode sair e/ou se relacionar?
- Quer controlar sua roupa e/ou seu Facebook, WhatsApp?
- Tenta proibir você de falar com pessoas que não gosta ou que são do sexo oposto ao seu?
- O impede de fazer determinadas coisas mesmo estando longe e/ou o proíbe de fazer coisas das quais você gosta?
- Quando vocês discordam, você é punido com frieza, com indiferença ou ele/ela faz algo para que você fique desconfortável?
- Irrita-se quando você toma decisões sem consulta-lo(a), como se devesse isso a ele/ela e não tivesse vontade própria?
- Usa intimidação ou faz ameaças para conseguir as coisas? Dá-se o direito de desrespeitar você, trata você rudemente – puxa, empurra, belisca, xinga?
- Faz você se sentir incapaz de tomar decisões?
- Desincentiva suas realizações e objetivos?
- É egoísta; as coisas dele/dela sempre são mais importantes do que as suas?
- Quer que você acredite, ou já te fez acreditar que se vocês terminarem ninguém mais vai te amar?
- Tenta fazer você sentir que está errado, mesmo quando o erro claramente foi dele/dela, sempre “virando a mesa”?
- Pressiona você sexualmente para fazer coisas que você não quer ou para as quais não está pronto(a)?
- Fala que você não é nada sem ele(a)? A chantagem emocional se faz presente, dizendoque precisa de você, que não consegue se separar, mas vive cometendo os mesmos erros.
- Liga várias vezes ou aparece para se certificar de que você está onde disse que estaria?
- Faz você passar vergonha na frente dos seus amigos ou família?
- Já te traiu e coseguiu te convencer que a culpa era sua?
Você:
- Começou a se sentir diminuído, feio, burro e percebe que sua autoestima é destruída por ele(a) o tempo todo?
- Sente medo, algumas vezes, de como seu/sua parceiro(a) irá agir?
- Depois de um tempo nesta relação passou a não saber mais do que gosta, não gosta e se sente dependente do outro, como se estivesse perdido sem a outra pessoa?
- Cria desculpas constantemente para outras pessoas pelo comportamento de seu/sua parceiro(a)?
- Acha que, não importando o que você faça, seu/sua parceiro(a) nunca está feliz com você?
- Mesmo sentindo que precisa terminar, você não tem forças?
- Era mais feliz, mais seguro antes desta relação e vem ficando cada vez pior?
- Sempre faz o que seu/sua parceiro(a) quer que você faça em vez do que você quer fazer?
Se você se identificou com algumas destas situações é possível que esteja em uma relação abusiva. É preciso então cuidar do que você pode fazer, caso esteja numa relação assim.
A primeira dica é aceitar que você não muda os outros, mas pode sim mudar a si mesmo. Lembrando que não adianta fazer isso só para agradar o outro.
É preciso aprender a se proteger do abuso e começar a pensar sobre o que te mantem nesta relação e se realmente vale a pena seguir nela.
Se você acha que realmente vale a pena, é preciso estabelecer regras e consequências firmes e claras. O abusador só tem força quando o outro se submete e não questiona. Ele(a) precisa da sua falta de capacidade de reconhecer o abuso para te dominar.
Muitas vezes, tentar mostrar para seu/sua parceiro(a) que ele/ela é abusivo acaba causando mais transtorno, por isso o melhor é modificar suas atitudes ao invés de ficar tentando explicar. Você é quem deve respeitar seus limites em primeiro lugar e não se submeter a nenhum tipo de controle, xingamento e desrespeito. Isso é fundamental para uma mudança efetiva. Colocar estes limites não é tarefa fácil, mas assumir o controle da sua própria vida valerá a pena.
Nunca se esqueça: a culpa não é sua e não caia na ilusão que você tem a “missão” de mudá-lo(a). Também se submeter e se calar não vai melhorar a sua vida, não vai te ajudar a sair de verdade desta situação.
É importante criar espaço para sua individualidade, pois é comum a vítima ter aberto mão (mesmo que aos poucos) da sua liberdade e se tornado cada vez mais prisioneira. Mudar a si mesmo e se tornar independente é não precisar do outro para ser feliz.
O apoio familiar, dos amigos e conhecidos também é essencial, pois no momento em que a vítima vem, principalmente de uma relação desgastada, rompida, é importante criar laços sociais, que a façam sentir segura, ouvida e acolhida.
O autoconhecimento precisa ser desenvolvido, seja sozinho ou acompanhado de um psicólogo que possa ajudar você a se fortalecer e descobrir o que é uma relação saudável. Na maioria das vezes quem vive este tipo de relação desconhece isso, porque o modelo que teve com a família ou com quem fez esta função foi de abuso ou submissão.
Por último não se esqueça de que é importante saber a hora de terminar, pois às vezes não é possível mudar e salvar a relação enquanto o casal estiver junto e ambos devem procurar ajuda.
Sobre o mesmo tema, clique aqui para assistir ao vídeo “Não tira o batom vermelho”, da Jout Jout, no YouTube.
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