Percepção. O que estamos pensando?
Percepção, aparentemente este era o assunto da palestra do psicólogo Donald D. Hoffman. Porém, ao debruçar-me sobre seu conteúdo notei que existia algo além disso.
Voltei-me ao pensamento de uma discussão antiga: como percebemos o mundo? Seria a realidade esta que nós vemos? Quem somos nós diante do mundo, ou o mundo diante de nós?
O grande mistério da vida é que cada um tem diferentes opiniões e percepções sobre ela. Segundo o autor, a percepção é um estado de consciência. Entretanto, ele nos questiona: nós percebemos a realidade como ela é? De acordo com estudos recentes a resposta é não.
Os neurocientistas, ao estudarem o fenômeno da visão, descobriram que os bilhões de neurônios envolvidos no ato de ver criam uma imagem em tempo real do mundo.
Nós construímos o que precisamos do mundo no momento em que estamos vivendo. O que não necessariamente quer dizer que seja a realidade como sempre acreditamos que realidade fosse: tempo, espaço e objetos.
Estudos evolucionários mostram que nossos antepassados com visão mais acurada não necessariamente sobreviveram na cadeia da melhor adaptação, ao contrário do que nossa vã filosofia possa pensar.
O caminho lógico de pensamento seria que os mais adaptados e com maiores chances de sobrevivência são aqueles com melhor visão. Eis a grande virada.
A evolução favorece o mais adaptado, não a realidade como ela é. Não ver o mundo de maneira precisa traz vantagens na evolução. Nosso organismo é cheio de mecanismos que distorcem a realidade, recriam o mundo.
Donald Hoffman diz que a evolução nos deu uma interface que esconde a realidade e guia os comportamentos. Espaço, tempo e objetos são criados por nossa percepção, não existem literalmente, são símbolos criados para nos manter vivos, temos que levá-los a sério, mas saber que não existem.
Seus estudos nos mostram que muitos de nós construímos uma realidade em comum, por isso eu e você podemos estar juntos e ver um mesmo objeto, por exemplo, um vaso.
Em seu laboratório, Donald D. Hoffman conclui que a realidade é desenhada para esconder a complexidade do mundo real e guiar comportamentos adaptados, para sobrevivência.
Nós acreditamos em tempo, espaço e objetos como a natureza da realidade, como sendo a verdadeira realidade, mas estamos errados em nossa percepção, como já estivemos em outros momentos da história, acreditando que o mundo era plano, depois acreditando que o sistema solar girava em torno da terra.
Alguma coisa existe quando não estamos olhando, mas não é espaço, tempo e objetos, como acreditamos. A experiência percebida é ilusória, criada por um aparelho sináptico.
A realidade, para o cientista, é uma vasta rede de interações conscientes, simples e complexas, que causam experiências mútuas.
Complexo, não? Confesso que a palestra me deixa questionando, inquieta meus pensamentos e começo a fazer associações com teorias budistas, teorias filosóficas, talvez no desespero irrequieto de um mundo abalado, talvez tentando encontrar uma boia para não afundar, talvez por pura dificuldade de abrir mão de algo ilusoriamente tão concreto: minha percepção.
Talvez quando conseguirmos abrir mão de nossos conceitos (ou pré-conceitos) poderemos nos abrir para novas possibilidades de compreensão da realidade, seja ela qual for.
Para assitir a palestra de David Hoffman, clique aqui.
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