O vício em esporte
A autoestima e valoração de muitos praticantes de atividade física são constituídas, muitas vezes, na reflexão que fazem de si mesmos nos outros, num referencial externo e na sensação de que sempre devem cumprir as expectativas, sempre devem ser heróis. Nesse contexto pode estar o vício no esporte.
Nesta busca incessante por resultados, muitas questões podem ser deixadas de lado, tornando-se menos importantes do que a aparência externa e a percepção dos outros de uma imagem inventada.
Quando a capacidade de estar no mundo da pessoa é restrita, quando se assume uma forma malograda de ser como única possibilidade de se estar no mundo, podemos considerar que há um sofrimento. Pode haver ou não rompimento com o mundo na tentativa de acabar com a angústia existencial.
A adicção, por esta ótica, seria a ruptura deste processo fazendo com que o indivíduo caia em um vazio paralisante que o obriga a se reorganizar, muitas vezes, de maneira ineficaz.
As manifestações consideradas pelo olhar da modernidade como “doença mental” seriam tentativas fracassadas de superação desta ruptura.
Na busca por resultados o praticante de esporte lança-se exclusivamente ao projeto, à busca do heroísmo.
O corpo dominado e automatizado falha em sua execução com o passar do tempo, inclusive pela queda de rendimento advinda da idade.
Toda estranheza do ser faz-se presente. A presença é arrancada da cotidianidade, e se deparando com sua angústia existencial, perde-se o chão.
A percepção do mundo tal como era é alterada, os significados da intuição não são confirmados na realidade.
Consideramos o vício no esporte como negativo quando o exercício controla a vida da pessoa que o pratica, elimina outras escolhas e a vida se estrutura em torno do exercício, a tal ponto que responsabilidades ficam prejudicadas e refletem um desajustamento pessoal e social.
Critérios para classificação da atividade como adictiva:
- A atividade não é competitiva e é de escolha própria. Aproximadamente uma hora ou mais por dia é dedicada à atividade.
- A atividade requer pouca habilidade ou esforço mental
- A atividade não depende dos outros e é geralmente feita individualmente
- A atividade pode ser feita sem autocrítica.
- O praticante acredita que a atividade é valiosa.
- O praticante acredita que a persistência na atividade levará à melhora.
Sintomas apresentados pelo praticante:
- Padrão de exercício estereotipado, com um esquema regular de um ou mais treinos diariamente.
- Dar cada vez mais prioridade ao exercício, deixando outras atividades de lado.
- Tolerância aumentada à quantidade de exercício realizada.
- Sintomas de abstinência ao retomar o exercício.
- Consciência subjetiva de uma compulsão por exercícios.
- Rápido estabelecimento do padrão anterior de exercício e sintomas de abstinência após um período sem praticar exercícios.
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