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medicamentos

Medicamentos e os distúrbios mentais

Mais medicamentos e mais doentes?

Em uma reportagem no jornal “El País” o jornalista Robert Whitaker fala sobre seu livro Anatomy of an Epidemic, no qual relata sua pesquisa investigativa sobre os distúrbios mentais, como a esquizofrenia, e a alarmante realidade do crescente número de casos, apesar do desenvolvimento do tratamento com medicamentos.

Seu livro coloca em cheque nossas tradicionais crenças sobre os tratamentos medicamentosos que criamos desde a década de 1980.

Segundo o autor, existe uma falsa ideia de que a causa de doenças como esquizofrenia, depressão, ansiedade e outros distúrbios é apenas biológica.

Há tempos nos tem sido dito que esses distúrbios são consequências de desequilíbrios químicos no cérebro, como por exemplo, no caso da depressão, a falta de serotonina.

 

Amparo na ciência ou desamparo ao ser humano?medicamentos

A psiquiatria se abraçou nessa explicação pois era mais segura, mais científica e menos sujeita a críticas, como eram os diagnósticos baseados unicamente na análise freudiana.

A psicofarmacologia melhorou a imagem dos psiquiatras no hall social do cientificismo.

Entretanto, a pesquisa do autor nos mostra que a utilização dos medicamentos, na maioria dos casos, tem contribuído para aumentar a cronicidade das doenças.

O autor não defende a completa abstinência medicamentosa. Isso pode ser perigoso, pois para algumas pessoas as medicações funcionam.

Além disso, o cérebro se adapta às medicações utilizadas e retirá-las pode ter efeitos graves.

Por vezes nos esquecemos de que o que somos está profundamente tatuado em nossa anatomia e na história de nosso desenvolvimento motor.

A vida é um processo e continuamente nos formamos através de nossas experiências. Trazer nossos movimentos e formas à consciência possibilita transformações, e não há tratamento para distúrbios sem levar em consideração nossas interações com o mundo.

Entretanto, trazer à tona interações e formas de ocupar nossos espaços no mundo, que antes eram encobertas, é um processo ardiloso, nem sempre agradável.

 

obrigação de ser feliz
Além da ditadura de beleza, hoje vivemos a ditadura da felicidade.

A obrigação de ser (e parecer) feliz

Atualmente nos acostumamos a não sentir nada que seja desagradável.

Tentamos a qualquer custo “ser normais”, acreditando que normalidade é a completa estabilidade de movimentos.

Esquecemo-nos que a variação é o que nos traz vida, apenas sentindo tristeza podemos conhecer a alegria, apenas nos angustiando podemos entrar em contato com a possibilidade de achar significado para nossas vidas.

A nova filosofia, imposta na década de 1980, de que precisamos ser felizes o tempo todo é falida.

Crescer é difícil e diferentes emoções serão trazidas à tona no processo.

Essas emoções mudam em diferentes momentos da vida.

 

Lidar com tristezas e decepções é parte de lidar consigo mesmo e com o mundo.

tristeza
É preciso entender a tristeza para reconhecer a felicidade.

Se formos capazes de não apenas tentar ser felizes o tempo inteiro e pudermos voltar nosso foco de atenção para o mundo que nos cerca, olhando os contextos dos quais fazemos parte, como eles nos afetam e como podemos afetá-los, talvez consigamos colocar em prática aquilo que chamamos de empatia ou, mais profundamente, de compaixão.

Talvez consigamos olhar para nossas crianças e não rotulá-las como hiperativas, ansiosas, depressivas, compulsivas ou portadoras de outra síndrome qualquer, e possamos ajudar as pessoas a entender aquilo que sentem como constituintes de modos de ser.

Talvez possamos entender também que podemos desenvolver, a partir de uma característica, outras muitas habilidades para aprender a lidar com o mundo.

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