O Brasil e seus anti-heróis
O que Lula, Dilma, Aécio, Bolsonaro, Cunha e toda a quadrilha dos irmãos metralha têm em comum além de serem investigados na Lava Jato?
Todos apresentam uma característica comum a todo enredo de uma boa história: o anti-heroismo.
Campbell descreveu em seus estudos a jornada do herói, e dizia que essa estrutura arquetípica perpassava a vida de todos nós.
Seus estudos influenciam a arte dos roteiristas de grandes filmes até hoje e, como sabemos, toda história interessante de um super-herói precisa de um “super-vilão”.
Se a função do mito é nos conciliar com a consciência da própria existência e, desta forma, nos reconciliar com os sentimentos de gratidão, amor e reconhecimento da delicadeza da vida para assim nos ajudar a passar pelos processos da vida de maneira fluida, a função do anti-herói é a antítese disso.
Aos anti-heróis faltam qualidades como ingenuidade, bravura, idealismo e moralidade.
Geralmente realizam a justiça por motivos egoístas, pessoais, vingança, por vaidade ou por quaisquer gêneros que não sejam altruístas.
São personagens que, às vezes, praticam atos moralmente aprováveis. O anti-herói, diferente do vilão, obtém aprovação, normalmente por conta de seu carisma.
Nossos moços e moças que, teoricamente, deveriam facilitar o entendimento de nossa população em relação aos processos inerentes vividos em vida política, afastam-se e afastam a todos da conciliação com a consciência de nossa própria existência política, fomentando discursos e posições radicalistas, antagônicas à natureza humana.
Este recorte da situação de nosso país não faz referência a toda a história de exploração e subjugação que vivemos desde a época da colonização.
Precisaríamos de mais alguns artigos para uma análise um pouco mais aprofundada das interseções históricas que perpassam e influenciam psicologicamente nossa situação.
Entretanto, usando as palavras de Campbell, o mito nos revela um caminho possível, uma aventura no desconhecido para encontrarmos nossos próprios recursos e trazê-los de volta ao mundo transformando a sociedade em que vivemos em algo melhor, mais comunitário.
Não há dúvida deque nosso sistema está falido, corrompido e maltrapilho. A ignorância, não por falta de estudos, mas por falta de caráter, impera em todas as camadas de nossa sociedade.
Leandro Karnal, em uma entrevista para o Jornal da Cultura, em dezembro de 2014, disse:
“A corrupção é histórica, estrutural e ela não é do governo.
Ela pertence a uma interpretação poética bastante difundida na sociedade e que envolve, desde andar no acostamento”…”ou seja, nós temos uma diluição da ética, no sentido aristotélico do termo, que é bastante grave no Brasil…
A corrupção é parte estrutural da sociedade brasileira, inclusive do governo”…”mas a mudança tem que começar na escola, com a não conivência com a fraude escolar, ela tem que atingir o governo, ela tem que atingir as famílias de pais que ensinam filhos técnicas pouco usuais, ao concordar que o filho copie um trabalho da internet, ou outra coisa.
E as pessoas que têm raiva da corrupção, que são muitas no Brasil, devem entender, e devemos todos entender, que este é um processo estrutural, orgânico, que começa na educação das crianças sobre educação, sobre o que é mentir e não mentir e sobre o que é seduzir ou não uma criança com elementos de corrupção: “Se você fizer isto, eu te dou aquilo”.
Esse é um elemento de corrupção que começa muito cedo. O governo é a parte mais trágica, porque esse dinheiro que está saindo destes lugares não está indo para educação, não está indo para a saúde. As pessoas estão morrendo nos hospitais porque está sendo desviado dinheiro. “
Em sua fala clara e coerente, o historiador nos convida a exercer nossos direitos de cidadãos e vivenciar nossa aventura enquanto povo brasileiro.
Entretanto, esse caminho só poderá ser feito enfrentando os anti-heróis que somos em pequenas partes de nossa vida, além de também poder enfrentar todos os anti-heróis de nosso governo, independentemente de filiação partidária, outro artifício de desvio de atenção de nossos anti-heróis congressistas.
Seguindo os exemplos literários podemos perceber que a maior arma dos anti-heróis é a manipulação emocional.
Suscitam o desejo de vingança, o ódio e os discursos radicais, pois quando o herói é apartado de seus amigos, de sua equipe, de sua amada, de sua crença divina, enfim, quando distanciado do sentimento de gratidão, de pertencimento ao mundo, de igualdade e amor, o herói fica enfraquecido.
Provavelmente, ao invés de discursos separatistas e partidos a favor ou contra, se nos focássemos nas atitudes e crenças de nossos políticos e pudéssemos nos rever em nossa humanidade, nos esqueceríamos de nomes, partidos e bandeiras, para nos concentrar em uma reforma política com sentido e que representasse os valores humanos essenciais à vida e seus processos de transição em conjunto.
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