Neymar, sua liberação e o ponta pé para a discussão
Lendo a notícia da Folha de São Paulo sobre a contratação do motivador Evandro Mota pela seleção brasileira, confesso que me senti desapontada e profundamente triste.
Não com Evandro, que faz o melhor de si em seu trabalho, mas com profissionais do esporte que acreditam que a motivação, e por consequência um motivador, consiga abarcar a complexidade das relações esportivas e aportar uma equipe a um melhor desenvolvimento para o desempenho.
E sinto mais ainda em ter que admitir que nós, psicólogos do esporte, abrimos precedentes para que isso acontecesse.
Penso ser um absurdo que se valorize muito mais (até financeiramente) um motivador do que um psicólogo especializado em esporte que, teoricamente, acompanhará o desenvolvimento do atleta ou time durante toda a temporada, preparando uma periodização de preparação psicológica e fazendo as intervenções necessárias de acordo com as demandas das fases de treinamento.
A motivação é apenas o topo do iceberg quando se trata de uma preparação psicológica. Entretanto, tomando fôlego e ampliando nosso olhar, o sistema esportivo brasileiro, em seu amadorismo, incentiva cuidados paliativos e imediatistas na tentativa de acobertar os reais problemas.
Como deveria um psicólogo colocar-se inteiramente à disposição de uma seleção se não é bem remunerado e ainda não tem segurança nenhuma de continuidade mínima de seu trabalho?
Não me refiro nem a um ciclo olímpico, mas a meses de trabalho mesmo. Como fazer um trabalho sério e competente se, aos olhos da comissão técnica, este tipo de trabalho é de menos valia?
A minha experiência de atleta também mostra que muitos psicólogos do esporte se fecham em uma bolha, fazem dinâmicas de grupos ou palestras sem enredá-las à vida prática do atleta.
No enorme fuzuê que se faz em relação à liberação de Neymar da concentração, penso que outras muitas questões estariam envolvidas no esporte e seriam mais importantes a serem discutidas como, por exemplo, que tipo de atletas entram em confusão no meio de um jogo a ponto de serem expulsos?
Que atitude têm nossos atletas que não se sentem parte de um time a ponto de pedirem para ir embora no meio de um campeonato? Que time é esse feito de estrelas individuais?
Que país é este feito de um só esporte e este único esporte é apenas uma máquina de fazer dinheiro?
A liberação de Neymar da concentração, em todo esse circo, é apenas a entrada para o espetáculo.
Evandro que me desculpe. Nada contra seu trabalho, mas existe mais entre o céu e a terra e em psicologia do esporte do que sonha não só a vossa vã filosofia como a filosofia de todos estes que nunca realmente experimentaram a complexidade de um bom trabalho de um psicólogo do esporte.
3 Comments
Shakespeare agradece. Ótimo texto, Dani. Parabéns!
Oi Paulo,
Agradeço o comentário e o acompanhamento do site!
Oláá
A-do-rei o post.
Beijos!!
Mariana Netshoes bj.inf.br/netshoes-desconto
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