Hábitos de higiene emocional
Penso ser desnecessário reafirmar o quanto valorizamos mais as formas e a estética do corpo do que a sua real saúde.
Quando me refiro à saúde, refiro-me ao ser humano não dicotomizado entre mente e corpo, mas considerando que vivemos um corpo; construímos um corpo para ocupar um lugar no mundo e estar em relações, inclusive com nós mesmos.
Assim sendo, o conceito de saúde é um amplo movimento, pulsante, em que mente, corpo, sentimentos, relações interpessoais e trabalho devem ser levados em consideração.
Aprendemos, desde a mais tenra idade, a cuidar de nossos corpos. Nossos pais nos ensinam que temos que tomar banho, escovar os dentes e passar remédio em machucados.
Mas o que sabemos sobre cuidados emocionais? O que aprendemos com nossos pais sobre cuidados psicológicos?
Bem, a provável resposta é: nada. E a verdade é que em nossas vidas, provavelmente a quantidade de vezes que teremos que enfrentar situações emocionais difíceis, como fracassos, perdas, competições, rejeições, solidão, entre outras, é maior do que o número de vezes que enfrentaremos lesões físicas.
Segundo Guy Winch, nem ao menos nos ocorre que deveríamos “tratar lesões psicológicas” e ele faz uso de um feliz exemplo: com frequência, quando uma pessoa diz que está se sentindo triste, ouve-se “deixa isso pra lá”, “não é nada, é tudo coisa da sua cabeça”, mas nunca se ouve falar para uma pessoa com a perna quebrada “deixa pra lá, é só coisa da sua perna, já já passa”.
É hora de pensarmos em uma integração, dar o mesmo peso da moeda a todas as partes de nossa vida.
De acordo com o mesmo autor, a solidão cria uma ferida profunda que distorce nossas percepções e bagunça nossos pensamentos.
Tememos pedir ajuda e acreditamos que não nos dão a devida atenção e que seremos rejeitados. A solidão, diz ele, é definida subjetivamente, depende somente se você se sente emocionalmente ou socialmente desconectado daqueles que estão a sua volta.
Existem muitas pesquisas sobre solidão que mostram que ela pode matar. A solidão crônica aumenta a probabilidade de morte precoce em quatorze por cento, causa hipertensão, colesterol alto e queda no sistema imunológico, tornando-nos vulneráveis a todos os tipos de doenças.
Cientistas afirmam que a solidão crônica pode afetar sua saúde e longevidade tanto quanto o hábito de fumar, por isso é tão importante que possamos adquirir hábitos de higiene emocional (termo utilizado por Guy Winch), da mesma maneira que adquirimos o hábito da higiene pessoal.
Como a solidão não é a única ferida emocional que distorce nossas percepções de mundo, é importante estar sempre atento aos sinais emocionais em nosso cotidiano, pois somente assim podemos conhecer nossos sinais de autoengano e desenvolver aspectos importantes para a vida, como por exemplo a capacidade de resiliência. Precisamos estar atentos a nossas reações automáticas.
A maioria das pessoas funciona abaixo de seu máximo potencial, pois com percepções distorcidas de nós mesmos e da realidade, muitas vezes acreditamos, depois de um único fracasso, que não seremos bem sucedidos em determinada tarefa.
Quando nos convencemos de algo, é muito difícil mudarmos aquilo que acreditamos, então devemos estar cientes de nossas reações frente a adversidades.
Pode ser fácil nos sentirmos desmoralizados e derrotados depois de uma derrota, mas não deveríamos acreditar que não podemos alcançar um objetivo proposto até esgotarmos as possibilidades.
Devemos quebrar o ciclo negativo no qual nós mesmos nos colocamos. Todos nós pensamos naquilo que gostaríamos de ser, mas não somos; naquilo que gostaríamos de não ser, mas somos; adjetivamo-nos negativamente e assim por diante. Em situações difíceis, em que nossa autoestima já está ferida, pioramos ainda mais nosso machucado.
Fazemos isso no automatismo, por não termos o hábito da “higiene emocional”.
Pesquisas mostram que pessoas com baixa autoestima são mais propensas ao stress e suas consequências, portanto, ao enfrentar situações difíceis, deveríamos tentar nos focar em nossos pontos positivos e tratar a nós mesmos com a mesma compaixão que trataríamos um bom amigo.
Abaixo segue um vídeo sobre a solidão e a diferença de não estar sozinho:
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