Gramática do Esporte
E lá vou eu…
Gesto no movimento…
(Leminsky)
Outro dia estava lendo um texto sobre “etimologia das palavras” e algumas partes me chamaram a atenção. As palavras, assim como o corpo, são veículos de comunicação, vivência, aprendizado e relação com o mundo. Através delas tentamos exprimir aquilo que nosso corpo vivencia. Desta forma, à medida que lia o texto, não pude deixar de claramente associar as duas coisas. Gostaria então de compartilhar essa experiência.
A etimologia mostra-nos a consistência de cada palavra, sua origem, aquilo que permanece registrado no corpo da palavra. Ao mesmo tempo nosso corpo, como a palavra, traz em si toda sua história, tem uma origem, da qual muitas vezes não temos consciência, mas está registrada em nossos gestos.
“O uso banalizado da linguagem a torna anêmica, vazia, insossa, inútil convenção a que obedecemos sem refletir.” Quantas vezes, em nosso cotidiano treinamento não obedecemos a regras e convenções sem dar ouvidos ao que nossos corpos e nossas histórias nos dizem?
Transformamo-nos em seres humanos desvitalizados, anêmicos, “fazedores” de movimentos desnutridos de sentidos e significados, calando a aproximação e contato com os próprios sentimentos. A prática de atividade física, que deveria ser então momento de meditação e contato com si mesmo, passa a ser mais uma tarefa agendada do dia que deve ser cumprida.
“Lendo a sua história, descobrimos se o que as palavras dizem é de fato o que desejamos dizer, e aprendemos como é necessário limpar nossos olhos para vê-las de novo, percorrer o caminho que nos leva às suas origens, adivinhar (adivinhar é dom divino…) como tudo começou.” Atentos a nossa atividade física cotidiana retomamos nossa própria história, nossos gestos e movimentos tomam significado próprio, o corpo não mais “cumpre tabela”, o que não quer dizer que não seja técnico. Olhando para o fenômeno como se mostra, desenvolvemos aquilo que todos técnicos tanto almejam: a motivação.
“A etimologia revê a palavra em sua radicalidade, denunciando falsas interpretações, desempoeirando séculos de mal-entendidos.” A psicologia do esporte, através do acompanhamento da prática de atividade física, busca justamente desempoeirar camadas corporais duramente construídas, entendê-las e abrir novas possibilidades para as potencialidades, o aspecto mais decisivo da existência e das realizações humanas, a fim de que o praticante possa inventar-se e criar-se a si mesmo com e no mundo.
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