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equidade

Equidade

Nas últimas semanas movimentos cada vez mais fortes de direitos das mulheres têm tomado força e forma em nosso país. Movimentos que já se desenham há alguns anos, como o Think Olga, ganharam mais força com campanhas como #meuprimeiroassedio, viabilizada após comentários esdrúxulos na internet feitos a respeito de uma participante de apenas doze anos do MasterChef Junior.

O que causa maior espanto, além do comentário, é a quantidade de outros comentários e de pessoas que pensam isso ser normal. Os movimentos feministas têm tomado corpo, tanto com mulheres como com homens feministas. Essa é uma luta antiga e, talvez seja importante diferenciar dois termos importantes: igualdade e equidade.

Michael Kimmel certa vez falou que “o privilégio é sempre invisível para aqueles que o têm”, ou seja, para um homem é difícil perceber algumas opressões sutis, como a diferenciação entre “mulheres que se valorizam” ou “para casar” de “mulheres que não se valorizam” ou “para uma noite”, assim como para pessoas brancas, muitas vezes, é difícil notar o racismo em suas formas mais sutis.

Seria preciso, em primeiro lugar, entender que existem diferenças. Também, é necessário entender que diferenças não são ruins. Eis a dificuldade. Enquanto seres humanos, sendo homens ou mulheres, sempre tivemos dificuldade em pensar que aquilo que é diferente de nós é apenas diferente, e não necessariamente ruim. Ao contrário, as diferenças podem se complementar.

Temos muitos exemplos em nossa história que nos mostram o quanto a dificuldade em lidar com aquilo que é diferente de nós trouxe terríveis resultados, haja vista o nazismo e a escravidão. Esses dois exemplos nos mostram também que a forma mais comum de se tentar lidar com o diferente é o controle. Assim, poderíamos pensar, quais as formas de controle têm sido usadas nos últimos anos?

Após a Segunda Guerra Mundial, as mulheres começaram a conquistar seu espaço no mercado de trabalho. Os homens aceitaram relutantes, mas, ao mesmo tempo, precisávamos de mais força de trabalho para as indústrias se reconstituírem, e as mulheres eram mão de obra barata e fácil de serem exploradas em duras rotinas de trabalho, tanto quanto jovens adolescentes.

Ao olhar para a história, podemos perceber que as mulheres tentaram a via da igualdade, trabalhando tanto quanto os homens e se submetendo aos mais horrendos abusos, tanto morais quanto físicos, em busca de um lugar. Toda essa luta foi válida e nos trouxe a liberdade que hoje temos, inclusive para abrir tal discussão.

Entretanto, o que tentamos durante anos, a igualdade, pode ser justamente o que nos aprisiona e nos impede de atingir o que procuramos: a equidade de gênero. Não somos iguais aos homens, e não é preciso muito para perceber. Não apenas por diferenças físicas, mas psicológicas e de habilidades.

Enquanto mulheres, temos mais facilidade para lidar com múltiplas tarefas, somos mais intuitivas e emocionais, temos mais facilidade para trabalho em equipe. Assim como os homens, podemos desenvolver qualquer habilidade para as quais nos dedicarmos, mas por que não aproveitarmos aquelas que temos?

A maioria das mulheres, principalmente no meio corporativo, tenta se esconder. Ou são extremamente doces ou extremamente agressivas, como se, escondidas atrás de uma dessas duas posições, elas fossem conquistar mais espaço, seja “na sedução” ou “no grito”.

Tentando ser iguais nos esquecemos, ficamos lançadas na tentativa de igualdade, se tratando não apenas de gênero, mas também de raça e classe social.

Esquecemo-nos de corporificar a nós mesmas, apropriar-nos de nossas qualidades únicas e incorporá-las em nossos ambientes. Neste sentido, deveríamos nos voltar para a equidade, não apenas em termos de gênero, mas também de raça e de classe social.

Equidade, segundo o dicionário, significa apreciação, julgamento justo. E deveria vir dos dois lados, homens apreciando mulheres e mulheres apreciando homens. Talvez o primeiro passo para tal seja alguns homens entenderem que algumas coisas não lhe são de direito apenas por serem homens, como cargos em empresas ou as próprias mulheres.

Ninguém deveria se sentir dono de nada que não seja realmente seu. Outra informação importante que contribui para a mudança é que pesquisas mostram que homens que vivem em equidade têm menor predisposição aos vícios em substâncias químicas e em jogos, relatam maior sensação de felicidade conjugal, são mais presentes na vida dos filhos e desempenham melhor no trabalho, além de tomarem atitudes preventivas em relação a sua saúde física.

Filhos de casais que vivem em equidade de tarefas mostram melhor desempenho escolar e maior desenvolvimento de inteligência emocional. Mulheres que vivem em condições de equidade em casa e no trabalho têm menor probabilidade de sofrerem de síndromes relacionadas ao stress, ansiedade e depressão, além de cuidarem melhor de sua saúde física e demonstrarem maior desempenho em seus trabalhos.

Deveríamos, portanto, habitar a multiplicidade que existe em cada um de nós, sendo todos humanos, com todas as nossas diferenças, nos complementando e ficando mais fortes, com direitos e condições oferecidas que sejam iguais para todos, homens e mulheres.

Link para o vídeo da palestra de Michael Kimmel, sobre a importância da equidade:

https://www.ted.com/talks/michael_kimmel_why_gender_equality_is_good_for_everyone_men_included#t-302717

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