Crise econômica e saúde emocional
Na maré de nossa curta história enquanto país, sempre nos deparamos com esse infortúnio, esse maremoto que é uma crise econômica.
Como diria nosso querido Caymmi:
“Se sabe que muda o tempo, se sabe que o tempo vira, aí o tempo virou”.
E como as personagens de sua música, cada um reage de uma maneira aos momentos de crise.
Alguns aguentam, alguns labutam, alguns não falam, outros falam demais e fazem de menos.
Mas todos, sem exceção, sabem que, não importa quão santa seja a quarta-feira do pescador, a crise traz suas consequências emocionais.
Privação, queda na renda mensal, insegurança no trabalho, aumento da taxa de desemprego, aumento da inflação, inequidade e outros fatores sociais e econômicos estressam nosso dia-a-dia a níveis insalubres.
As conversas, inclusive as sessões de terapia, invariavelmente retomam o assunto.
Violência, abuso infantil, falta de controle de agressividade das pessoas, além dos esperados picos de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, etc… também compõem o quadro de uma sociedade adoecida.
O escritório regional europeu da Organização Mundial da Saúde organizou um compilado de informações e ações a serem implementadas em prol da saúde mental no momento de crise que assola a Europa.
O trabalho foi publicado em 2011. (http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0008/134999/e94837.pdf).
Nesse estudo, a saúde mental é endereçada como essencial para a saúde econômica dos países.
Ela é a fonte de suporte para o bem-estar geral e para a produtividade.
Este mesmo artigo diz que a saúde emocional permite a flexibilidade cognitiva e emocional, que são as bases para as habilidades sociais e resiliência diante do stress. O capital emocional é vital para o funcionamento da sociedade.
Como podemos prevenir que nossa vida seja sugada pelo ralo, sem nenhum controle, quando estamos imersos em uma sociedade que parece ter suas estruturas à beira do desmoronamento?
Não podemos controlar a economia, mas sempre temos uma escolha.
Podemos escolher como nos manejar diante da crise, reconhecer o ciclo da maré e saber que vai passar.
A dor, física ou emocional, pode nos fazer atuar fora daquilo que somos nós mesmos.
Algumas medidas podem ser tomadas para nos resguardarmos emocionalmente:
- Trabalhar em nossa consciência corporal – toda emoção se faz no corpo. Prestar atenção em quando e como sentimos stress, raiva, alegria, tristeza, etc… é importante para entendermos e gerenciarmos nossas emoções.
- Libertar-se de coisas que estão fora do controle – existem muitos aspectos da crise econômica que estão completamente fora das nossas mãos.
- Viver o momento presente – A maioria das pessoas tem uma visão idealizada do futuro e de como as coisas devem ser. Isso nos leva a sair da realidade e viver um mundo virtual de possibilidades que não existem, comparando o momento com situações imaginárias (os famosos “e se…”). Hoje vivemos um momento de um futuro incerto, e podemos viver momentos de restrições e escassez. Entretanto, alguns estudos demonstram que tendemos a nos sentir melhor a respeito da vida depois de momentos de crise.
- Retomar o foco em nossas prioridades – alguns psicólogos sugerem que podemos “refocar” nossas prioridades, ao invés de buscar a felicidade, que pode ser algo frívolo e passageiro. Podemos focar na plenitude, nos aprofundando em nossas relações e nos preocupando genuinamente com o bem de outras pessoas.
- Fazer mudanças necessárias com confiança – A crise econômica provoca um reflexo de susto. Podemos sentir medo da perda, negar a situação ou desejar que o tempo volte magicamente. Entretanto, é importante encarar a verdade de frente e ser proativo. Tentar manter um estilo de vida que não conseguimos sustentar vai apenas causar mais problemas emocionais. Talvez tenhamos que nos mudar, perder coisas ou até vendê-las, mas é importante olhar para a vida como vários momentos e este é apenas mais uma passagem. A cada respiração surge uma oportunidade para mudarmos, reconstruirmos e aprendermos com nossas experiências. A única certeza que temos na vida é a mudança.
Em momentos de crise econômica e social a terapia pode empoderar as pessoas para que possam confiar em suas habilidades de evoluir, lidar e se ajustar a novos desafios, trabalhando a consciência de si.
Momentos difíceis e desafiantes virão nos próximos anos. Porém, eles também nos trazem a oportunidade de desenvolver nossas capacidades de resiliência, criatividade e flexibilidade para lidar com mudanças.
Crescer, se adaptar e mudar exige muito trabalho interno.
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