Automontagem: a reorganização criativa
A vida é um grande exemplo de um complexo trabalho de arte.
Um organismo se desenvolve por uma série complexa de interações envolvendo diferentes componentes.
Esses componentes, por sua vez, são constituídos de outros componentes moleculares, que possuem sua própria dinâmica de existência, como a habilidade de catalisar reações químicas.
Entretanto, quando todos esses sistemas e subsistemas se combinam e formam uma outra unidade, como por exemplo um tecido, novas e antes desconhecidas propriedades emergem, incluindo habilidades de movimento, formatação e crescimento.
A automontagem
Esse fenômeno, em que componentes se juntam para formar uma estrutura com novas propriedades que não poderiam ser previstas anteriormente pelas características individuais de cada parte, é chamado de automontagem.
Podemos observar a automontagem em nosso corpo. Moléculas formam organelas, que formam células, que por sua vez formam tecidos, que se agrupam em órgãos, até formar um corpo organizado por sistemas entrelaçados entre si e funcionando em harmonia.
Tenho a tendência a acreditar nos paralelos entre sistemas, no espelhamento do micro para o macro, talvez não como uma lei que aconteça cem por cento das vezes, mas como uma possibilidade.
A automontagem nas relações humanas
Não tenho muitos estudos em teoria da complexidade, portanto, me desculpem aqueles que entendem profundamente sobre tais funcionamentos.
Pensando neste espelhamento do micro para o macro, podemos fazer um paralelo das relações humanas e pensar sobre o desenvolvimento de pessoas.
Catalizando processos de grupos e individuais, sempre menciono a importância da relação, como ficamos tatuados pelos caminhos que passamos e cada vivência fica marcada em nossa mais profunda anatomia.
Criatividade
Criatividade é um conceito criado por nossa sociedade ocidental e que surgiu no Renascimento.
Atualmente existem inúmeras teorias sobre os processos de criatividade que levaram a várias possíveis explicações sobre fontes e métodos de criatividade.
Dentre eles podemos citar a incubação, o pensamento divergente e convergente, a abordagem da criatividade cognitiva, a teoria da interação explícita-implícita, entre outras muitas abordagens.
A criatividade, hoje muito estudada, é um processo vital ao ser humano e é definida como um fenômeno em que algo novo ou valioso é formado.
Por vezes, diante de tantas teorias, nos perdemos em inúmeros processos. A criatividade passa a ser vista como exclusiva de alguns iluminados humanos. Saímos de nosso corpo e de nossas vicissitudes para nos atermos ao concreto mundo de relações binárias.
Esquecemo-nos da complexidade de nosso próprio sistema, das inúmeras relações existentes em nosso cotidiano que podem contribuir para a formação de um híbrido transformando-os em uma nova estrutura.
Voltando a nós mesmos, para nossas estruturas, podemos encontrar a abertura e disponibilidade para nos misturarmos, sem nos perder, e confiarmos em nossas capacidades criativas.
Assim como as moléculas, células e tecidos de nosso corpo, a vida nos presenteia com interações infinitas capazes de suscitar o novo.
Podemos nos apropriar de mais momentos de nossa vida e, usando as palavras de Edgar Morin, “pode se tentar favoritar tudo que pode permitir a cada um viver poeticamente sua vida, pois se você vive poeticamente você encontra momentos de felicidade, momentos de êxtase, momentos de alegria”
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