As festas de fim de ano e a tristeza
“Tristeza, por favor vá embora
minha alma que chora está vendo o meu fim”
Festas de final de ano. Natal, Ano novo, festas de confraternização, amigos secretos e tantas outras festividades. Seria a hora certa de espantar a tristeza?
Momento de alegria e de cantar vários jingles aprisionados em nossos pensamentos desde os tempos áureos de criança, certo?
Existe uma pressão social para que tudo esteja bem e para que tudo pareça feliz em nossa sociedade, principalmente nesta época.
Somos o país do “passar o pano”, “dar um jeitinho”. Se alguns (muitos) bilhões somem do orçamento governamental e nós fingimos que está tudo bem, por que não fazer o mesmo com nossas vidas no fim do ano?
Entretanto, é necessário entender e abrir espaço para a tristeza.
O fim de um ciclo, qualquer que seja, pode eliciar alegria, mas também tristeza, stress e até mesmo depressão.
Os prazos implacáveis do final de ano, a preparação das festas, viagens, reuniões de família (nem sempre tão agradáveis assim), podem ser estressantes.
Os fatores mais relatados como motivos de tristeza são:
- As lembranças daqueles que não estão por perto, seja porque já se foram desta vida, seja porque estão afastados, física ou emocionalmente.
- As lembranças de momentos felizes que não acontecem mais e o reconhecimento de que as coisas podem não mudar para melhor, ou, ao contrário, podem piorar.
Em um país instável, em que as manobras governamentais obscuras parecem tomar dimensões maiores a cada dia, é de se esperar que grande parte da população não comemore tão alegremente as festas e comece a demonstrar sinais de ansiedade e depressão diante das situações vividas atualmente.
A depressão deve ser levada a sério e receber os devidos tratamentos. Não pode simplesmente ser justificada pelo período de férias.
A tristeza, por outro lado, é dolorida, difícil de disfarçar mesmo na companhia dos outros, mas é parte da vida. Somente sabendo o que é a tristeza podemos conhecer a alegria.
Talvez por isso seja importante, em fins de ciclo, ter dias para se lembrar do passado, dos caminhos percorridos, bons ou ruins.
O inevitável encontro com as lembranças tristes, durante o final do ano, pode aumentar a ansiedade e a tensão pelo fato de se ter que lidar com a ausência de alguém querido, a solidão, a erosão na alma de tradições perdidas ou o fato de estar marginalizado, seja pela idade ou outro fator qualquer.
Todavia, ao estarmos disponíveis para acolher a tristeza e abrir espaços para a criatividade, podemos nos inspirar em algumas tradições e rituais de tribos e povos que comemoram e celebram as boas memórias daqueles que se foram.
Eles fazem da tristeza uma oportunidade para reviver e compartilhar as memórias de pessoas queridas.
O tempo é aproveitado para relembrar e recontar histórias, olhar antigas fotografias, compartilhar conhecimento e lembranças com aqueles que ainda estão em nossas vidas e até mesmo cozinhar uma receita tradicional.
Esta pode ser uma oportunidade de passar para novas gerações, ou mesmo para outras pessoas, ensinamentos e aprendizagens daqueles que foram exemplos, preencher o cotidiano de nossas existências em um país colapsado com detalhes de vida e criar pontes, interconectando e aproximando laços emocionais que transcendem as faltas.
Tristeza não é depressão, é parte das transições e nos dá bases emocionais para a felicidade, transformando os tempos de festas de fim de ano em tempos doces, de lembranças e de presença, tanto daqueles que se encontram fisicamente presentes, quanto daqueles que não mais estão.
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