A química do amor e o cérebro
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
.
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
.
Vinicius de Moraes
Amor e paixão. Experiências singulares na vida de todos nós, seres humanos, e que tem a capacidade de nos fazer sentir as criaturas mais sublimes ou os mais malfadados dos seres do universo.
O que acontece conosco quando nos apaixonamos?
Helen Fisher e seus colegas estudaram o cérebro de pessoas apaixonadas e pessoas que tiveram seus corações partidos.
Em todas as sociedades estudadas por antropólogos, há formas e sinais de amor, o que nos faz acreditar que a capacidade de amar seja inerente ao ser humano.
Ao estudar a atividade cerebral de pessoas que se consideravam felizes no amor, o grupo de cientistas encontrou atividade em uma pequena área perto da base do cérebro e em células que produzem dopamina, um estimulante natural do organismo.
Esse sistema faz parte do cerebelo, aquilo que chamamos de cérebro reptiliano. Está localizado abaixo do córtex, da área de raciocínio e compreensão das emoções.
Ele também faz parte do sistema primitivo de recompensa do cérebro, ou seja, pessoas que estão apaixonadas têm ativado em seu cérebro os sistemas relacionados ao querer, motivação, foco e desejo.
É provável que esta seja a razão para o amor romântico ser vivenciado como uma obsessão, uma perda da noção de si mesmo. Uma experiência que envolve a perda de controle dos próprios pensamentos.
E quando um relacionamento termina?
Três regiões do cérebro são ativadas. Uma delas é exatamente a mesma região que é ativada quando a pessoa está intensamente apaixonada.
Em outras palavras, a pessoa que leva um fora continua amando com a mesma intensidade, ou até mais.
Outra região ativada é a responsável por calcular perdas e ganhos.
Geralmente tentamos entender o que deu errado no relacionamento, se deixamos passar algum sinal, se poderíamos ter feito algo diferente.
Essa também é uma região ativada quando nos dispomos a aceitar grandes riscos. Podemos terminar com grandes sucessos ou grandes fracassos.
A outra região ativada quando um relacionamento termina é aquela associada ao apego profundo à outra pessoa. Por isso sentimos como se perdêssemos uma parte de nós mesmos.
Quando somos rejeitados nosso corpo é tomado por sentimentos de amor romântico e apego, ao mesmo tempo em que nosso circuito de recompensas trabalha energizando nosso corpo, voltando o foco de atenção, motivação e desejo de arriscar tudo por amor.
O amor romântico
Segundo a pesquisadora, o amor romântico é um impulso, uma força em direção à procriação que possibilita focar a energia procriadora em uma pessoa.
Seria uma necessidade? Um desequilíbrio? Algo inerente ao ser humano?
Helen Fisher diz que:
O amor romântico é um vício, maravilhoso quando vai bem e horrível quando vai mal. Possui as mesmas características: foco apenas no objeto do vício, pensamento obsessivo, desejo, distorção da realidade, risco sem medida, precisar cada vez mais da pessoa (tolerância), abstinência e recaídas.
A pesquisadora demonstra em sua palestra que animais também amam. Na natureza existe um processo seletivo entre machos e fêmeas em que os mesmos mecanismos do sistema de recompensa estão envolvidos.
Entretanto, mesmo sabendo de todos esses fatos sobre a neurociência do amor, ainda existe alguma mágica do amor que nos atrai para uma pessoa e não para outras. Ainda vivenciamos o amor com todo seu encanto, sempre atentos e sempre esperando que seja infinito.
Clique no link abaixo para assistir a palestra da antropóloga Helen Fisher:
https://www.ted.com/talks/helen_fisher_studies_the_brain_in_love#t-586679
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