Adolescência
Adolescência. Diz o dicionário que é a fase que marca a transição entre a infância e a vida adulta.
Muitas pessoas definem a adolescência por uma determinada faixa etária. Entretanto, quem nunca conheceu, conhece, ou é um adolescente já tendo passado há muito do número tido como razoável para o fim desse período?
Concentremo-nos na definição da palavra: fase de transição. Alguns não se lembram muito de como é uma transição, uma mudança, muitos de nós simplesmente passamos por ela atropelando, nos atropelando, em ritmo de corrida acelerada para o futuro, na expectativa de algo que está por vir.
Porém, toda transição nos coloca em um lugar paradoxal, em um entremeio, cheio de angústias, de não se saber nem lá, nem cá.
E vejam bem se não é isto a adolescência? Não mais criança, mas ainda não adulto. Este período fático da existência traz em si o rompimento daquilo que é mais cotidiano.
Ele passa a ser cobrado por uma postura adulta, adquire novas responsabilidades, o corpo começa a passar por mudanças que desconhece e, de repente, é arrebatado por uma sensação de completa estranheza.
Essa estranheza é uma perda de significado. Neste encontro com o incontornável, o adolescente interroga.
Interrogação valiosa, mas que incomoda, pois certezas começam a ser feridas, gerando crises.
O mundo no qual está introduzido é um mundo velho, preexistente. Cabe aos adultos, assumidos da responsabilidade deste mundo, introduzi-lo, com suas tradições, aos jovens.
Porém, este mundo está em constante mudança, e aquele que apresenta o mundo aos adolescentes deve estar ciente disto.
Segundo Hannah Arendt, dado que o mundo é velho, a educação se dá sempre no passado, mesmo que se fale de um mundo presente, e é muito fácil educar sem ensinar, como também se pode passar um dia inteiro aprendendo sem ser educado.
Questionando os padrões de nossa educação, ela retoma a questão da responsabilidade. Diz que a responsabilidade pelo mundo deve ser assumida por uma autoridade, aqui não vista como uma pessoa com títulos, mas como alguém que assume a responsabilidade pelo mundo, pela coletividade, pela vida de si mesmo e dos outros com respeito e igualdade.
A autoridade seria um representante dos adultos apresentando o mundo. Também segundo ela, como essa figura de autoridade atualmente desempenha um papel bem contestável, isso significa que passamos a exigir que cada um se responsabilize igualmente pelo rumo do mundo.
No entanto, esse chamado do mundo por responsabilidade tem sido repudiado.
Assim, as crianças e adolescentes ficam abandonados à própria sorte, sem parâmetros precisos para acolherem seus questionamentos.
Os eternos adolescentes, que já passaram da idade cronológica de adolescentes, têm abandonado as gerações posteriores à própria sorte, produzindo acontecimentos como o atentado acontecido na Nigéria, em que uma adolescente de 15 anos matou doze pessoas e depois cometeu suicídio, ou a completa falta de parâmetro sexual, em que uma festa para adolescentes termina com fotos de sexo explicitas na página da festa no Facebook, e isso é tido como amor.
A riqueza da adolescência é sua capacidade de questionar o mundo, sua revolta contra as leis instauradas, suas crises, pois se estas são sustentadas e acolhidas, se reitera o sentido da existência, de maneira mais ampla, com mais possibilidades.
Entretanto, isso requer flexibilidade e confiança daquele que ampara a crise. Confiança de que mudanças não são ameaçadoras, e se bem planejadas e bem executadas podem agregar.
Por isso as relações com outras pessoas que possam estar abertas para o acolhimento das experiências da adolescência é tão importante para “dar um lugar”, como a psicoterapia.
Assim, o adolescente pode compreender por si e por meio de si, um sentido, conseguindo traduzir suas experiências, dando significados, ocorrendo a abertura para transformações.
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