A síndrome do bem-estar
A palavra bem-estar está espalhada por todos os lados.
Produtos orgânicos são vendidos no supermercado, em todos os lugares ouve-se falar sobre a prática de atividade física, o número de participantes em aulas de yoga, zumba, crossfit e outras formas de movimento cresce a cada dia.
Alguns autores dizem que a busca por bem-estar define nossa era, mas também nos sinaliza tendências que podem ser problemáticas, como a automatização social, o anti-intelectualismo, narcisismo e tecnocratismo.
Davies, Cederstrom e Spicer dizem que essa cultura dissemina a “síndrome do bem-estar” que propaga uma ilusão de completude e felicidade.
Segundo os autores:
O nascimento cultural de um sujeito inculcado com o valor de que a produtividade é o caminho para a completude e gratidão generalizada como a forma mais evoluída de expressão, é uma tragédia.
Entretanto, cada vez mais o novo mundo promete a quantificação do movimento por meio de aplicativos e tecnologias, tão intensos que é quase impossível escapar.
Como explicar tal momento, esta cultura de produtividade que invade todos os campos?
Mayo, estudioso considerado responsável pelo modelo da cultura corporativa moderna defende a ideia de que a felicidade dos colaboradores é a chave para a produtividade.
Mayo é considerado o responsável pela ideia de cuidado integral das pessoas, incluindo a saúde física, prática de exercícios, cuidado com alimentação etc.
É difícil dar crédito ao argumentos dos céticos da cultura do bem-estar que classificam-na como sendo uma cultura manipuladora e prejudicial, quando olhamos para o aumento da sensação de qualidade de vida, da vitalidade nos relacionamentos, entre outras vantagens em pessoas que se propõem a fazer parte das propostas feitas por muitas empresas de incentivo à atividade física e a um estilo de vida mais saudável.
Ao considerarmos os problemas de saúde acarretados pela inatividade, provavelmente nos inclinemos a pensar que o entusiasmo compartilhado para alcançar o bem-estar e a completude contribua para a esperança de movimento, de progresso.
Assim, a promessa do bem-estar pelo movimento próprio se abre como uma possibilidade entre ameaças de atrofia.
Existe, talvez, um entendimento distorcido ou parcial sobre a prática de atividade física, pois esta existe, por vezes, justamente por sua função social. Fato notável em um tempo de individualismos e declínio do engajamento social.
Reconhecer a experiência viva desta cultura do bem-estar poderia fortalecer as pesquisas acadêmicas sobre a influência deste fenômeno em cada um de nós e em nossa sociedade.
A experiência pessoal no esporte pode propiciar questões essenciais para que as pessoas se apropriem daquilo que dá significado à existência de cada um.
Esses significados não estão necessariamente ligados ao esporte, mas este pode ser o catalizador para entrarmos em contato com nossa própria diversidade e criatividade; um potencial inspirador.
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