A necessidade de agradar
Minha avó dizia que se nem Jesus Cristo conseguiu agradar a todo mundo, quem somos nós para achar que vamos.
E não é que muitas vezes passamos horas sofrendo porque não conseguimos agradar cem por cento?
Ao nascer participamos de um pacto implícito (ou explícito mesmo), em que somos recompensados por fazer aquilo que o outro espera de nós, por vezes atropelando e escondendo bem no interior aquilo que desejamos para nós mesmos.
Muitos passam uma vida vivida em função do outro, sem olhar para si, sem se responsabilizar pelo próprio destino; as decisões são tomadas em função do que a pessoa acredita ser melhor para sua imagem, daquilo que os outros vão achar.
As pressões sociais e a necessidade inerente de pertencimento que temos podem nos levar a este aprisionamento.
Um episódio recente da série “Black Mirror” nos faz deparar com essa questão.
A história se passa em uma sociedade em que o status das pessoas é medido pela pontuação que recebem em uma mídia social.
Isso lhes confere amigos, permissão para entrar e frequentar certos lugares, etc.
Todos nós queremos agradar em certo grau. A necessidade de aprovação e amor é tão natural quanto a necessidade de água e comida.
Quando a intensidade da necessidade de agradar os outros é elevada, ela causa sofrimento.
Quando não podemos tolerar a mínima desaprovação do outro, como se essa desaprovação fosse destruir a relação estabelecida, ou fosse nos marginalizar de alguma maneira, agradar a todos parece ser a melhor saída para evitar conflitos e se sentir pertencendo.
No entanto, isso é uma ilusão. Harriet B. Braiker fala de uma “doença da aprovação”.
Geralmente as pessoas que admiramos são aqueles que são firmes em seus propósitos e defendem seu ponto de vista, e toleram em si mesmas as raivas e frustrações daqueles que são descontentes com seu ponto de vista.
Quando nos disponibilizamos e nos responsabilizamos pelos lugares que ocupamos na vida e nos relacionamentos que estabelecemos, nos colocamos em parceria.
Um relacionamento se faz com, no mínimo, duas pessoas.
Isso implica em nem sempre agradar e nem sempre ser agradado. Podemos tentar entender e tolerar que o outro fique frustrado e que isso não necessariamente vai destruir a pessoa ou a relação estabelecida.
Faz parte de nosso crescimento a capacidade de poder lidar com nossas impotências e falta de controle daquilo que o outro pensa de nós.
A terapia pode auxiliar no entendimento e tolerância de nossos próprios processos, para que possamos nos desenvolver e estar abertos para tolerar os processos daqueles que nos cercam.
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