A depressão e a nossa relação com o tempo
A depressão pode ser analisada como um sentimento social de falta de sentido na vida, de insatisfação.
Refiro-me à depressão não como o quadro clínico, mas sim como esse sentimento presente na vida de muitas pessoas na nossa sociedade: uma ansiedade e um sentimento de inutilidade cotidianos.
Uma das formas possíveis de analisar a depressão por essa ótica é pensarmos na nossa relação com o tempo.
É muito comum, depois de um dia de muito trabalho, acontecimentos, ligações, ruas, pessoas, deslocamentos, não termos nada a dizer, ou se temos, nos faltar a lembrança.
Na verdade tudo o que temos é o tempo e o que nos resta na vida é saber o que vamos fazer com ele.
Quando a Segunda Guerra Mundial acabou as pessoas poderiam ter imaginado que os soldados voltariam cheios de coisas para contar depois de experiências tão intensas. Mas foi visto exatamente o contrário, eles estavam sem nada para contar, vazios de experiência.
Chamo de experiência a pessoa poder narrar o que está vivendo e achar que de algum modo pode ser transmitido para algum outro. Ou seja, é contar o que foi vivido.
O que vivemos é um pouco continuidade do que nossos pais contaram, do que foi contado para eles e assim por diante.
Analisando o que ocorreu com os soldados, Freud chegou à seguinte conclusão:
A função permanente da consciência de aparar o choque, de receber muitos estímulos, pode impedir a construção de uma narrativa.
Diante disso, vemos hoje que profissões que sobrecarregam a consciência (por exemplo, todas as que lidam com velocidade) provocam stress.
Depois de um tempo exercendo estas funções as pessoas podem sofrer de desânimo, falta de prazer na vida, sentimento de inutilidade, falta de sentido.
O que vemos então é que o homem moderno perdeu o valor da experiência.
Ele produz vivência, que é esse contínuo, mas que não produz narração, não produz transmissão.
O que nos ajuda a suportar momentos de terror, angústia, desanimo é a perspectiva do tempo que transforma as coisas, a possibilidade de suportar o tempo vazio por meio de um encadeamento de ideias, de fantasias.
Esse encadeamento faz com que o tempo do ser humano seja um percurso entre um passado recente e o futuro que seremos capazes de representar.
O que nos dá um sentimento de continuidade da experiência é a memória.
O futuro é vazio e a única certeza que temos quanto a ele é a morte. O que nos resta é a nossa fantasia, é poder nos projetar no futuro.
Só posso projetar algo desagradável se tenho a memória de algo que me constitui no passado. É isso o que pode dar a duração, o que pode prolongar o antes e o depois.
O deprimido vive num tempo que não passa, pois não tem a perspectiva do depois, não deseja nada no depois.
A psicoterapia pode ser um momento de pausa neste dia a dia muitas vezes tão corrido e pode colaborar para o desenvolvimento de recursos internos para fluir ao longo das situações que a vida nos apresenta.
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1 Comment
Gostaria desabar mais sobre esse quadro.
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