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TDAH – Remédios são sempre necessários?

Em 2013 li um artigo intitulado “Por que as crianças francesas não têm déficit de atenção?”

(http://equilibrando.me/2013/05/16/por-que-as-criancas-francesas-nao-tem-deficit-de-atencao/).

Antes de ler o artigo já defendia a ideia de que nossa cultura sedentária e militar, com um ponto de vista singular do que é disciplina, pouco desenvolve o repertório motor e corporal de nossas crianças, jovens e adultos.

A diferença gritante nos índices de TDAH entre crianças norte-americanas (9% na época) e francesas (menos de 0,5%), segundo o artigo, era uma questão de como se via a doença.

Nos EUA, assim como no Brasil, o TDAH é visto como um transtorno biológico e tem seu tratamento baseado nessa raiz. São receitados medicamentos como a Ritalina e terapias comportamentais.

Por outro lado, na França, o transtorno é tratado pelos médicos como condição psicossocial e situacional, e assim o tratamento tem bases no contexto em que a criança está inserida. Identificam-se e são tratados as condições sociais, familiares e os estímulos de desenvolvimento para a criança, ao invés de apartá-la do contexto e a rotular como disfuncional.

O modo contextual dos franceses de abordarem um distúrbio permite inclusive levantar a hipótese de que fatores nutricionais contribuem para o TDAH, como o excesso de açúcar na alimentação, alimentos com corantes ou alguns tipos de conservantes que alteram o comportamento, por exemplo.

A filosofia de ensino francesa também tem bases diferentes, que talvez expliquem a divergência de comportamentos das crianças consideradas bem educadas. Tanto os pais quanto as escolas francesas têm limites bem estabelecidos e as crianças, desde a mais tenra idade, são ensinadas a ter limites.

Estes devem ser coerentes e claros, para fazer com que as crianças se sintam mais seguras e felizes, sabendo seu espaço. Ouvir a palavra “não” suscita confiança na criança de que ela é cuidada, de que não está em risco. Assim, com esses limites, as crianças aprendem a ter autocontrole.

Além disso, as crianças na França, e também na Alemanha, desde cedo são estimuladas a trabalhar seus corpos, a criarem repertório motor. Por meio das brincadeiras em sala, de aulas que envolvem estímulos sensoriais e atividades que exigem a integração de todo o corpo, as crianças aprendem desde cedo a lidar com pulsos, utilizando o movimento e o corpo como veículo para criatividade.

Ao contrário, nosso sistema americano de ensino segrega a cabeça do corpo, seguindo o pensamento cartesiano que divide alma e corpo.

Tentamos aniquilar o corpo de nossas crianças, parando-as disciplinadamente durante horas sentadas em carteiras e contribuindo para que a única forma de liberdade existente seja a aceleração dos pensamentos, a ansiedade e o medo de errar, pois a extrema exigência do acerto também é presente em nossas avaliações do que é bonito e feio, desde os desenhos da pré-escola.

Em uma interessante palestra Sir Ken Robinson ilustra a maneira como o ensino tradicional sufoca a criatividade:

https://www.ted.com/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity

Acredito ter esclarecido as diferentes visões a respeito do TDAH. Agora, considerando que somos ainda seguidores cegos de metodologias tradicionais de trabalho e de ensino, deixo ao leitor a busca da resposta para as questões:

Seria mesmo necessária a utilização de remédios para o tratamento do TDAH em todos os casos? Não teríamos alternativas?

O trabalho contextualizado do psicólogo junto aos sistemas que envolvem a criança não poderia ter maior impacto que seu aparte do contexto e o olhar objetificado da pessoa como “problema”?

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