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percepção

Percepção

Avenida Paulista, domingo de verão escaldante, na semana mais quente dos últimos sessenta anos.

E eu frustradíssima porque fui nadar e a piscina estava fechada. Em minha cabeça martelam os pensamentos: “Como assim fecham a piscina em um dia desses?!

Jogo de futebol o caramba! Que se exploda o futebol!” Coisa de Jeca achar que a piscina não pode funcionar nem meio período por causa de Jogo, complicações de prefeitura com as quais não quero muito me haver.

Não vou fazer nenhum protesto contra isso, mas imaginem minha expectativa de entrar na piscina do Pacaembu, cinquenta metros, aberta, quem é do mundo das águas entende os pequenos prazeres que essa estrutura arquitetônica pode propiciar.

A cada gota de suor que me descia pela têmpora, pensava na água passando pela pele, uma sensação indescritível de se deixar ir. Podia praticamente sentir as braçadas. Comecei então a pensar sobre o significado que a natação e a água tinham em minha vida, que foram para além da natação profissional, e como esta era uma percepção muito particular, pois conheço pessoas para quem água é sinônimo de pavor, seja ela de piscina ou de mar.

Retomei uma palestra que acabara de assistir, do professor Johannes Carl Freiberg, falávamos sobre percepção. Afinal de contas, porque percebemos uma mesma situação de maneiras diferentes? Seríamos diferentes porque percebemos o mundo diferentemente? Ou perceberíamos diferentemente porque somos diferentes? Não acho que responderei a essas perguntas, nem é este o objetivo deste artigo. Aqui pretendo somente criar questões mesmo, incomodar um pouco talvez. Mexer com as percepções.

Comecemos então a falar da percepção em si. Não existe na literatura uma definição para percepção, existem várias. Não se desesperem meus queridos cartesianos, aqui não estamos em busca de uma “verdade verdadeira”, temos várias verdades e exporei a que me mais me agrada (sim, tiranicamente colocarei a minha opinião).

A percepção é uma abertura ao mundo, um sistema de captação das informações deste mundo que nos rodeia. Àquilo que percebemos, nosso corpo, quase que instintivamente responde. Nossas pupilas se dilatam, o coração palpita e a respiração fica ofegante diante ao ser amado, por exemplo, ou diante do medo de nadar uma prova em uma competição. Importante ressaltar que este não é um sistema de causa-efeito, mas sim um movimento orgânico. Abrindo parênteses: interessante pensar que sentimentos tão diferentes estão relacionados aos mesmos movimentos corporais. Está lançado o pensamento filosófico, voltemos à percepção.

Não acho que há dúvidas quanto a dizer que percepção é algo sensorial, são os órgãos do sentido os responsáveis por esta captação do meio. Depois de passar pelo sistema sensorial é que a percepção passa a ser motora, a gerar um movimento. Podemos dizer que toda percepção gera uma escolha. Vamos ao exemplo: dia de competição, alguns vão para a prova como se fosse a última missão de suas vidas, alguns vão para simplesmente se divertir e outros têm quase um ataque de pânico diante do desafio. Podemos também trabalhar este pensamento em um nível micro, uma célula que percebe a outra e a ela responde de alguma forma, criando a percepção intercelular, fornecendo-nos informações internas sobre nosso próprio funcionamento, aquilo que chamamos propriocepção.

Percepção é, então, uma satisfação para um incômodo, é movimento e emoção. Para aqueles que se confundem neste momento: não estamos em um campo de pensamento linear, causa-efeito, não acontece primeiro uma coisa, depois outra, depois outra. Estamos falando de coisas que acontecem conosco concomitantemente. Percebemos, emocionamo-nos, movimentamo-nos, tudo quase ao mesmo tempo. Neste sentido, a palestra fez-me lembrar de uma palavra que não ouvia desde a época da faculdade: Enação, que é A ação guiada pela percepção, ou seja, a compreensão da percepção é a compreensão da forma pela qual o sujeito percebedor consegue guiar suas ações na situação local.

A lembrança de que movimento e ação só existem frente ao acontecimento me fez pensar em quanto muitas vezes nos distanciamos de nossas próprias percepções, e não conseguimos nos conectar aos nossos próprios movimentos e ações. Nossas relações e conexões também se dão por essas percepções. Como encaramos um treino? Como nos colocamos em uma competição? Qual nosso percepção de um determinado estilo? Como nos sentimos nadando com uma determinada técnica? Qual intensidade de treino nos é mais confortável? Perceber é gerar uma escolha, toda escolha tem um valor.

Você já pensou quais são as escolhas que tem feito em sua vida?

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