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O problema da pesquisa em psicologia

Pesquisas em psicologia sempre foram questionadas.

Algumas correntes estruturais desenham instrumentos e teorias universais, fazem pesquisas na tentativa de encontrar padrões universais e atemporais que abarquem nossa angústia de existir no mundo, que nos deem lugar seguro e previsível em relação a nossa natureza humana.

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A psicologia em si, desde a sua criação com Freud, sempre foi questionada em relação a sua cientificidade cartesiana.

Em artigo recente (clique aqui para ler o texto em Inglês) uma das “verdades” da psicologia é posta em xeque.

Uma pesquisa lançada em 1997 dizia que todos nós temos uma quantidade de força de vontade e ela diminui se a usarmos demais, e isso foi chamado de depleção do ego.

O estudo mostrava que, quando utilizamos nossa força de vontade para resistir a um chocolate, por exemplo, isso nos cansa, consome energia mental, como se fosse um músculo que pudesse ser treinado e que também entra em exaustão.

Na época essa pesquisa revolucionou o campo das ciências humanas, e vários outros estudos citaram e reproduziram este primeiro.

Psicólogos descobriram muitas outras tarefas que exauriam as pessoas e podiam diminuir suas capacidades cognitivas. A depleção do ego passou a ser considerado um fenômeno “verdadeiro”.

Entretanto, em um trabalho de 2010, dois psicólogos, Carter e McCullough, tentaram reproduzir o experimento sem sucesso.

Em uma revisão literária encontraram várias brechas de que os experimentos anteriores poderiam ter alguma falha na metodologia.

A solução encontrada pela Association of Psychological Science, foi replicar o experimento em diferentes laboratórios. O resultado? Em 24 laboratórios, apenas dois tiveram resultados positivos para o fenômeno.

Não podemos afirmar se o conceito é real ou não, mas podemos pensar nas ciências que envolvem o ser humano e as relações humanas, variável quase sempre desconsiderada em experimentos.

Merleau-Ponty dizia que existem várias faces de uma mesma verdade e não conseguimos abarcar todas elas. Quando focamos em uma face da verdade, a outra face fica encoberta para nós.

Por vezes também desconsideramos a velocidade com que nosso mundo mudou em dez anos. Enquanto seres humanos, estamos sempre em relações, nos construímos na relação com o mundo.

Nossos “fenômenos internos” se transformam concomitantemente com os “fenômenos externos”, e em uma delicada interconexão dentro e fora se comunicam o tempo todo.

Neste sentido deveríamos nos perguntar se realmente conseguiríamos reproduzir um estudo feito em outro tempo-espaço, com outros fatores históricos e sociais em voga, que já não são nem próximos ao mundo que temos hoje diante de tamanhos avanços tecnológicos e diversas conjunturas sociais alteradas.

Hoje, o que vemos são cientistas tentando encaixar uma metodologia para que suas hipóteses sejam confirmadas.

No entanto, o grande trunfo da ciência deveria ser mostrar o fenômeno como ele ocorre, com todas as suas interferências, inclusive das afetações que estão sempre presentes em qualquer pesquisa.

Talvez quando pensamos em humanidade, fechar uma pesquisa em um único aspecto e uma metodologia completamente rígida e busca de padrões universais seja uma busca própria para diminuir a angústia diante da imensidão que é a vida em si.

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