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felicidade

Felicidade sustentável

Nunca se falou tanto em sustentabilidade como nos últimos anos. Estamos vivendo uma nova era, em que algumas pessoas defendem uma mudança de modelo mental para que não se destrua o mundo.

O conceito de sustentabilidade diz respeito a responsabilidade e cuidado. Quando percebemos que nossas atividades impactam o meio de uma maneira nociva e tentamos repensá-las para que isso não aconteça, desenvolvemos um modelo de pensamento sustentável.

Entretanto, toda vez que falamos do conceito de sustentabilidade, logo pensamos em meio ambiente. Por que não pensarmos em sustentabilidade quando falamos de pessoas dentro das organizações? Por que não pensarmos em um novo modelo de pensamento que não seja nocivo as pessoas que trabalham na organização? Se em negociações prezamos cada vez mais pelo modelo do “ganha-ganha”, por que não pensar nisso dentro das próprias organizações quando falamos de pessoas?

Há algum tempo a humanidade vem mudando seus conceitos. Antes pensávamos que era natural ter escravos, até que um dia alguém falou que não era bem assim e outro alguém ouviu, ai começou a mudança. Em 1954 um relatório das Nações Unidas avançou com a ideia de que a renda per capita não era suficiente para medir o nível de bem-estar social, desenvolveram então o Índice de Desenvolvimento Humano, que leva em consideração a expectativa de vida ao nascer, educação e PIB per capita.

O Butão, país pouco expressivo no IDH, discordando dos dados que o índice apontava, pois não condiziam com a realidade de seu país, criou o FIB índice de Felicidade Interna Bruta que leva em consideração nove fatores (bem-estar psicológico, uso do tempo, saúde, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio-ambiente, governança e padrão de vida).

O Butão pensou diferente. Baseou-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de uma sociedade surge quando o desenvolvimento da felicidade e o desenvolvimento material são simultâneos, se reforçando e completando mutuamente. Lembra-se da relação “ganha-ganha”? Seria esse o modelo de felicidade sustentável?

Importante dizer que o novo modelo de pensamento tem ganhado cada vez mais força e algumas organizações já começaram a também a praticar um modelo diferente. Falamos aqui de dois conceitos que se reforçam e completam mutuamente quando aplicados a pessoas em organizações: a sustentabilidade, que já definimos acima, e a felicidade. Mas afinal, o que chamamos de felicidade?

Neste artigo escolho falar de felicidade baseada em três conceitos, teorias, pensamentos, abstrações (conforme o leitor prefira chamar): a pirâmide de Maslow, flow feeling e gerenciamento de energia.

  • Maslow dizia que para alcançarmos a auto-realização deveríamos satisfazer algumas necessidades de forma hierárquica. As necessidades de nível mais básico deveriam ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. As primeiras necessidades a serem satisfeitas seriam as fisiológicas, em segundo lugar a segurança, em terceiro os relacionamentos, em quarto lugar viria a estima e em quinto, a última das necessidades a ser satisfeita, seria a realização pessoal. Creio que a s necessidades de que fala Maslow sejam essenciais ao nosso conceito de felicidade, entretanto concordo com a crítica de alguns autores que dizem que as necessidades não são atingidas de maneira hierárquica. Atenhamo-nos, então, não à hierarquia do modelo, mas às necessidades.

felicidade sustentável

  • Flow feeling (ou estado mental de fluidez), conceito proposto por Mihály Csíkszentmihályi, é um estado mental de completa concentração, em que a pessoa, ao fazer uma atividade, está completamente imersa em um sentimento de foco energizado, completo envolvimento e prazer no fazer da atividade. De acordo com o autor, é uma imersão individual, que talvez represente a experiência de atrelar as emoções a serviço da performance e do aprendizado. Seria uma espécie de hiperfoco, estar-presente, o famoso e conhecido Carpe Diem.
  • Há algum tempo autores (Covey, 2008; Mancini, 2007; Bracey 2004) defendiam a ideia de que deveríamos nos organizar e cultivar o mandamento do “não postergarás” para conseguirmos dar conta de todas as exigências e tarefas da vida, deveríamos gerenciar o tempo. Finalmente resolvemos assumir que somos humanos, demasiado humanos, e que o tempo, estes senhor poderoso, não pode ser detido ou controlado. O que nos resta é tentar administrar o que fazemos com esse tempo que corre solto, e, mais importante, COMO fazemos o que fazemos.

Loehr e Shwartz (2003) dizem que temos quatro áreas principais na vida que são fontes de nossa energia diária: física (nutrição, horas de sono, prática de atividades, etc.), emocional ou social (diz respeito aos relacionamentos familiares, amizades, no trabalho, etc.), mental (pensamentos, estados de humor) e espiritual (aqui não entendido no aspecto religioso, mas como legado, qual o sentido de nossas atividades).

Gerenciando nossas energias nestas áreas chegaríamos à alta performance constante, para isso devemos treinar nossas capacidades nas quatro áreas diariamente. Nossas habilidades emocionais, mentais e espirituais são desenvolvidas da mesma maneira que nossas habilidades físicas: muito treinamento. Nós expandimos nossas capacidades quando superamos nossos limites, ou chegamos perto deles. Entretanto, devemos sempre nos lembrar de que o descanso é parte essencial de qualquer treinamento.

Penso fazer mister o esclarecimento de que, quando falamos de felicidade, não me refiro a felicidade plena, alcançar o nirvana, ser inteiramente bom e feliz 24 horas no dia. Falamos aqui de uma felicidade sustentável, do desenvolvimento da responsabilização e do cuidado de cada um com si mesmo e com outros, para que, desta forma, possamos chegar à auto-realização, com muitos momentos de intenso engajamento (o que pode ser alcançado gerenciando melhor nossas energias).

Assim, podemos pensar em organizações mais produtivas e menos doentes, em que seus funcionários ganhem mais tempo livre, aumentando sua eficiência, e a organização perca menos em absenteísmo e doenças relacionadas ao stress. Talvez essa seja uma mudança no modelo de pensamento rumo à sustentabilidade do capital humano das organizações.

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