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Diagnósticos, rótulos e estereótipos

Diagnósticos em psiquiatria por vezes são aprisionadores e podem impedir que a pessoa se encontre como ser humano.

Vivemos numa época em que as novas formas de subjetivação surgem pela ausência de um lugar ético significativo que possibilite a constituição de si mesmo, ou pela solidão absoluta decorrente da ausência do rosto do outro.

Como diria Raul Seixas, na música “Maluco Beleza”, o diagnóstico caminha na direção de se controlar a “maluquez”, e não integrá-la como parte do ser humano. Entretanto, em uma palestra no TED Talks, Rosie King nos mostra como, mesmo com o diagnóstico de autismo, conseguiu projetar um horizonte possível para si mesma.

Existe uma lista bem específica com descrições que as pessoas costumam usar para diagnosticar o autismo, que nada mais é do que uma grande variação de como somos.

Muitos associam autismo com gostar de matemática e ciências, mas existem autistas criativos. Os estereótipos estão, geralmente e senão sempre, errados. Vemos o mesmo com gays, mulheres, negros. As pessoas tem tanto medo da diversidade que tentam, como diz Rosie, por tudo em uma caixinha, com etiquetas bem específicas.

Segue uma pequena parte transcrita da palestra de Rosie King e que ilustra bem como conseguiu reconhecer suas capacidades:

“É como se eu sempre estivesse andando em dois mundos. Tem o mundo real, que é o que todos nós dividimos, e tem o mundo na minha cabeça, e o mundo na minha cabeça é geralmente muito mais real que o mundo real. Assim, é muito fácil deixar minha mente solta, porque eu não tento caber numa pequena caixinha.

Essa é uma das melhores coisas em ser autista. Você não tem que forçar para fazer aquilo. Você acha o que quer fazer, você acha um jeito de fazer e começa a fazer. Se estivesse tentando entrar nesta caixinha, eu não estaria falando isso é não teria conseguido a metade das coisas que tenho agora.

Mas também há problemas. Há problemas em ser autista, e há problemas em ter muita imaginação.

A escola pode ser um problema em geral, mas também explicar para uma professora, todos os dias, que a aula dela é inexplicavelmente chata e você está refugiado secretamente em um mundo na sua cabeça, no qual você simplesmente não está naquela aula. Isso aumenta a lista de problemas quando minha imaginação toma o controle.

Meu corpo toma vida sozinho. Quando algo muito empolgante ocorre no mundo na minha cabeça, tenho que correr. Eu tenho que balançar pra frente e pra trás, e às vezes gritar. Isso me da tanta energia, e eu tenho que gastar toda essa energia. Mas eu faço isso desde criança, desde que era uma menina pequena.

E meus pais achavam que era fofo, então não falavam disso, mas quando fui pra escola, eles já não concordavam que aquilo era fofo.

Às vezes as pessoas não querem ser amigas da garota que começa a gritar na aula de matemática. É isso não ocorre com frequência agora, mas as vezes as pessoas não querem ser amigas da menina autista. Às vezes, as pessoas não querem se relacionar com alguém que não quer ou não pode caber naquela caixa rotulada como normal.

Mas por mim tudo bem, porque isso separa o joio do trigo, e eu posso achar pessoas que são genuínas e verdadeiras, e eu posso ter estas pessoas como amigas.”

O que é ser normal? Porque o ser humano tem tanto medo da adversidade? O quão limitante é um rótulo?

Talvez essas sejam questões centrais quando nos deparamos com um diagnóstico.

Talvez a principal questão seja como trabalhar para lidar com o preconceito e desenvolver as potencialidades da pessoa enquanto ser humano, dentro de suas limitações, mas independente do rótulo anunciado.

Para assistir a palestra de Rosie King, clique aqui.

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