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Consciência: um fenômeno humano ou universal?

O filósofo, cientista e professor David Chalmers considera a consciência um dos fatos fundamentais da existência humana.

Não existe nada que conheçamos mais diretamente do que nossa própria consciência. Entretanto, não podemos ter certeza da experiência da consciência do outro.

Sem o fenômeno da consciência nada em nossas vidas teria valor ou significado.

consciência
Algumas linhas de pensamento afirmam que a consciência pertence a alguma ordem de fenômenos que não poderia ser estudada pelas ciências, pois esta é objetiva, enquanto aquela pertence ao campo da subjetividade.

 

David Chalmers pensa que algumas ideias radicais se fazem necessárias para integrar o fenômeno da consciência – explorado pela filosofia há alguns séculos – às ciências.

 

Nos últimos vinte anos, trabalhos explorando a temática têm sido mais frequentes.

Neurocientistas, fisiologistas, psicólogos e outros profissionais de diversos campos têm se debruçado sobre o assunto.

Porém, limitações centrais se fazem presentes em tais pesquisas.

Segundo o autor, as pesquisas têm focado em correlacionar certas áreas do cérebro a certos estados de consciência, mas não a explicam. Essas pesquisas não perguntam o porquê.

Os paradigmas tradicionais da ciência cartesiana não conseguem abarcar esta perspectiva.

Temos uma experiência, mas não sabemos como abordá-la em nosso mundo científico, como integrá-la ao objetivismo.

David Chalmers diz que temos algumas “ideias malucas” para dar conta deste paradoxo.

Dan Dennett, por exemplo, diz que a ideia de subjetividade é uma ilusão, uma confusão. Para ele, tudo o que temos que fazer é explicar as funções objetivas, os comportamentos cerebrais, e tudo estará explicado.

Então, teríamos uma abordagem extremamente reducionista do que é a consciência, quase uma negação da experiência em si.

 

Mesmo em meio a tantas dúvidas, duas ideias parecem promissoras:

A primeira é que o fenômeno da consciência é fundamental como o espaço e tempo para a física.

Essas leis não são explicadas pelos termos objetivos da ciência, mas se constroem em teorias baseadas nesses conceitos, sendo assim primárias.

Por vezes, com o passar do tempo alguns fundamentos poderão ou não ser explicados.

Poderíamos considerar, então, a consciência como um fundamento básico da natureza?

Se esta opção fosse adotada, então a ciência se voltaria a estudar como os outros fundamentos se interconectam à consciência. Ou como espaço, tempo, massa e processos físicos estão interconectados com ela.

A segunda é que todo sistema tenha algum grau de consciência.

Ela seria então um atributo universal. Isso é chamado de pampsiquismo. Desde fóton e partículas de átomos a organismos complexos como humanos.

Faz-se importante lembrar que existe uma distinção entre consciência, inteligência e pensamento. O professor Chalmers exemplifica em sua palestra que um fóton tem algum elemento de sentimento primitivo, subjetivo. Um precursor do estado consciente.

consciência
Partindo da pressuposição de que a consciência é condição fundamental, como tempo e espaço, ela seria provavelmente universal.

 

Em culturas menos cartesianas, em que a vida humana é compreendida como interconectada à natureza e seus fenômenos, essas ideias podem não parecer tão estranhas.

Giulio Tononi, um neurocientista, desenvolveu rigorosamente uma teoria tentando mostrar a conexão existente entre consciência e processamento de informações.

Em sua pesquisa ele mediu a quantidade de informação integrada em um sistema e supõe que essa integração se relaciona com a consciência.

Então, quanto maior a quantidade de integração de informações, maior a consciência.

O cérebro humano, por exemplo, tem uma grande quantidade de integração de informação, e assim é altamente consciente.

Para a teoria do pampsiquismo devemos considerar o grau e a complexidade da consciência de um organismo e trazer novas perspectivas sobre a ética e moral de intervenções e criações de sistemas, não apenas na natureza, como também no campo da inteligência artificial.

Segundo o professor Tononi:

Deveríamos também nos perguntar sobre consciência de grupos, sociedade e do próprio planeta.

Essas são apenas algumas especulações sobre nosso próprio lugar no mundo. Algumas delas cada vez mais estudadas e aceitas, outras sendo mais criticadas.

Muitas pessoas estão em busca do que seria isso que chamamos de ser humano. Entretanto, muitas não se preocupam com tais questionamentos. Afinal, são questões mais “filosóficas”, diriam alguns.

Como filosofia, ciência e psicologia fazem parte de nosso cotidiano, e podemos pensar, baseados nesta perspectiva, que em nossa sociedade fluida, em tempos de muitas informações e pouca reflexão, a capacidade de integração das informações adquiridas pode ser prejudicada.

Obtemos informações superficiais, que ficam compartimentadas em nossa falta de tempo constante.

Momentos de silêncio e pausas são necessárias para que essa interconectividade entre informações aconteça e possamos nos tornar mais conscientes, criativos e inovadores.

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