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acaso

Acaso

“Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altera qualquer coisa. Não altera nada…Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro…”
Clarice Lispector

Outro dia estava eu tomando café na padaria (lá de vez em quando passo em alguma hora para tomar aquele expresso especial, mais especial porque faz parar, pelo menos por alguns minutos, a insanidade do dia-a-dia) e vi um casal também tomando café da manhã, um casal jovem e bonito.

Fiquei me perguntando como teriam se encontrado. Teria sido por acaso? Entretanto, minha curiosidade ia além do jovem casal. Uma curiosidade marota, daquelas de criança, de saber como o amor acontece. Afinal, o que mais conversamos, quando saímos entre amigas, é justamente o quanto anda difícil “encontrar alguém”.

Sempre reclamamos da falta de atitude dos homens, ou da falta de comprometimento, de hombridade. Mas o que isso quer dizer?

Lembrei-me das deusas da mitologia grega: Ártemis, deusa da natureza e da caça, destemida e independente; Perséfone, a deusa adolescente, jovem e rainha do inferno, entra nas mais profundas camadas do inconsciente; Athena, deusa da prudência e da sabedoria, inteligente e trabalhadora; Afrodite, deusa da beleza e do amor romântico; Deméter, a deusa mãe, que protege e cuida, nos ensinando a compreensão emocional; Hera, a deusa esposa, regendo a família de Zeus, o poder; dentre tantas outras.

Elas são representantes de todas nós mulheres. Temos um pedacinho de cada uma, muitas vezes características mais marcantes de uma, mais encobertas de outras, mas todas nós, potencialmente, somos representantes de um grupo forte e destemido, ao mesmo tempo em que somos frágeis e sensíveis. Paradoxal não?!

Pelo menos eu me sinto assim, um paradoxo ambulante. Pessoalmente nunca fui uma mulher muito conservadora. Gosto de me lançar em aventuras, sentir um friozinho na barriga, gosto do novo de um primeiro encontro, do inesperado, do “instante-já”, como classificaria Clarice Lispector, sou impulsiva e descomprometida, sou da geração que defende o sexo por sexo, por simples desejo.

Ao mesmo tempo, e é concomitante mesmo, sem nem um segundo de diferença, sou tímida, eu mesma me escondo. Escondo que sei plenamente que o “instante-já” sempre acaba dando espaço a outro “instante-já”, que não é o mesmo. Isso é assustador. Gostaria de ter um pouco de constância nessa vida. Escondo que gostaria de me apaixonar e de ser apaixonante para alguém, de cuidar e ser cuidada… Eis meu lado conservador.

Luigi Pirandello, escritor italiano, já falava que somos um, nenhum e cem mil ao mesmo tempo. Gosto dessa imagem. Talvez seja um alivio pensar que possa ser várias em uma só, abre-nos inúmeras possibilidades de ser. Talvez aumente a probabilidade do tal “encontrar alguém”. E retorno à pergunta infantil: Como se encontra alguém?

Andei perguntando por aí, obtive inúmeras respostas, todas elas rebatidas com inúmeras outras tantas perguntas, no final parece que nunca se sabe. É o acaso em seu mais pleno desempenho.

Fico pensando se o encontro não aconteceria em pequenos instantes em que ocorre uma comunicação totalmente sem ruídos, em que o percebido é um detalhe, um gesto em que a pessoa se mostra, e, o outro, enlaçado, é o único que percebe entre tantos outros ao redor. Um sorriso discreto, uma virada de pescoço, um andar, um olhar que é captado.

Recordo-me agora da frase de uma música do Semisonic: “Nobody knows it, but you’ve got a secret smile and you use it only for me” (Ninguém sabe, mas você tem um sorriso secreto e o usa somente para mim).

Talvez seja isso o tal encontro, uma percepção secreta, talvez por isso os olhos do jovem casal brilhava tanto. Ou seriam apenas feromônios*?

*Feromônio – substâncias químicas que, quando captadas por animais da mesma espécie, permitem o reconhecimento mútuo e sexual dos indivíduos. A palavra pheromone foi criada a partir do grego pherein que significa “transportar” e hormon palavra derivada de órmao que significa “excitar”

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